segunda-feira, 9 de março de 2009

Gravidez, aborto e excomunhão


Quem não se chocou com o caso da menina pernambucana que sofreu abuso sexual de seu padrasto e ficou grávida de gêmeos não tem sangue nas veias.
O estupro é um crime monstruoso quando realizado contra adultos, mas se torna bestial quando se trata de uma criança, pois destrói a inocência e abala a confiança da criança nas pessoas mais íntimas dela.
O aborto não é permitido no Brasil, salvo as hipóteses legais (art. 128 do CP) e esse foi o caso.


Art. 128 - Não se pune o Aborto praticado por médico:

Aborto Necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no Caso de Gravidez Resultante de Estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o Aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.


Ai vem um padre FDP e quer excomungar os médicos que realizam o aborto. É só eu ou alguma coisa não se encaixa nessa história?

A vida é, com certeza, o direito fundamental mais importante e mais protegido no Direito Brasileiro, tanto que ao indivíduo não é permitido dispor de sua própria vida legalmente. Mas há algo chamado estado de necessidade: situação na qual se sacrifica um bem para se salvar outro bem. A gravidez de gêmeos já complicada em uma mulher adulta, que o diga em uma criança que mal chegou a puberdade e que não teve tempo de se desenvolver. Abriu-se mão de uma vida em potencial por uma já concreta e que seria colocada em risco extremo para que os bebês pudesse ter uma chance de sobreviver a duras penas.
O interessante é que a Igreja não aceita de forma pacífica o uso de métodos contraceptivos e não permite o aborto de filhos indesejados. Ok, nós não matamos, só jogamos no lixo ou no esgoto... Para piorar a situação, querem punir os médicos que salvaram a vida e o resto de dignidade de uma criança e não excomungam o estuprador. Eu me pergunto que moral tem uma Igreja que tem entre seus membros, fora os poucos íntegros, pedófilos, para excomungar alguém.
A questão do aborto é delicadíssima e ainda vai gerar discussão até o fim dos tempos. Ainda mais numa situação como essa: como pesar uma vida em cada prato da balança e decidir qual é a mais importante?
Se me perguntarem se eu faria um aborto, sinceramente responderia que iria depender de diversos fatores e de quão desesperada eu estivesse, mas, sim, eu vislumbro a possibilidade ainda que distante, mas o que não aceito é que aqueles que são contra retirem da mulher que deseja realizar tal procedimento o direito de fazê-lo legalmente. Digo legalmente, porque um dispositivo no código penal não é suficiente nem para inibir o homicídio, quanto mais o aborto. O grande problema é que a clandestinidade evita que as mulheres tenham um atendimento de qualidade e acabem morrendo de complicações do aborto realizados em péssimas condições. Mas isso já está começando a mudar (ou talvez tenha mudado faz tempo e a gente só está sabendo agora). Atravês da política de redução de danos, diversos médicos ginecologistas e obstretas, diante da irredutibilidade em fazer o aborto, estão orientando-as sobre como fazer o procedimento com segurança usando medicamentos como Citotec e se houver complicações eles as atendem evitando o pior (Veja)
Tem até site que dar todas as indicações de procedimentos e reúne depoimento de pessoas que já fizeram o procedimento.
Eu tenho noção das conseqüências que é pensar em destruir a vida de uma criança, mas trazê-la ao mundo para abandoná-la à própria sorte matando-a aos poucos é realmente uma opção muito melhor? Claro que o certo é prevenir, mas há caso em que tudo dá errado e a gravidez acontece a despeito de toda a proteção e ai? Vamos torcer para que todos os bebês não planejados consigam comover seus pais e despertar o instinto maternal/paternal.

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