domingo, 8 de março de 2009

Eu queria ser invulnerável!

A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser.
Sócrates

foto: Narciso de Caravaggio

Às vezes fico chateado comigo mesmo quando me dou conta de que a motivação dos meus atos vem do que eu acho que os outros pensam ou esperam de mim. Nessa hora sinto que mais uma vez me abandonei, me traí e isso só contribui para que cada vez mais eu me perca da minha verdadeira essência. Uma vez li naquelas frases da revista Seleções (Reader’s Digest) a seguinte afirmação: “o homem verdadeiramente livre é aquele que pode dizer não sem precisar de uma boa desculpa.” Não sou livre, definitivamente.

Tenho várias situações nas minhas relações que me levariam a escrever sobre esse tema, mas o gatilho de hoje foi um tema recorrente quando sinto necessidade de autoflagelamento: porque não estudo pra outro concurso? Sim, ele, o concurso. Pra onde eu me viro há alguém com um livro, um panfleto de cursinho, um cartaz anunciando o próximo, alguém falando do ótimo salário etc. Ele é a megasena atual. Motivo de alteração de status quo. E certamente a última instância na medida de classificação do valor do indivíduo dentro da sociedade (pelo menos pro mundo do Direito). O espírito competitivo próprio do capitalismo, onde os números estão acima do caráter e onde ser o primeiro lugar representa um valor almejado e invejado, impõe o seguinte conceito: merecedores de admiração são aqueles vitoriosos que passam, fracassados os que não passam ou não tentam.

Questiono o significado atual para algumas palavras-clichês como “vitória”, “sucesso”, dentre outras. Rejeito esse sistema de méritos que menospreza o valor individual, a escolha e o ritmo próprio de cada pessoa. Já faz um certo tempo que almejo na minha vida competir comigo mesmo e melhorar a cada dia como ser humano e não priorizo as conquistas somente externas e visíveis. O que valorizo são as nossas vitórias contra os nossos próprios obstáculos. Isso sem falar das pessoas extremamente inteligentes e felizes que conheço, que passaram longe da educação formal e dessa corrida rumo ao topo, o que só reforça a ilusão disso tudo.

Pra finalizar essa reflexão de fim de domingo à noite e para que, esperançoso de que ao compartilhar isso com vocês eu me ajude a evitar essa tendência, termino esse post com a seguinte confissão: tenho duas vozes dentro de mim. Para os que não tem, o que vou dizer pode soar muito maluco, mas para os que têm, familiar. Exatamente nesse momento em que eu escrevo esse texto cheio de crítica social, tem um diabinho sussurrando no meu ouvido, me dizendo o seguinte: “por mais que você use toda essa sua pseudo-eloquência, que possivelmente vai angariar algum comentário elogioso e/ou adeptos, você sabe, no fundo, no fundo, que não tenta porque você é medíocre e você só está apedrejando aquilo que não consegue ter para tentar se exorcizar. E mais, ao escrever você está tentando transformar sua mediocridade em vaidade.” NÃO É VERDADE!!!! Eu grito pra ele puto, mas é inútil, ele não se cala. Essa voz é minha ou vem de fora? É o que eu realmente sinto ou o que acho que os outros pensam? Volte para o início do texto...

2 comentários:

  1. Viver é algo complicado e doloroso e também emocional e viciante. A vantagem de interagir com outras pessoas é que aprendemos coisas novas, sentimos coisas diferentes, mas a desvantagens é que buscamos agradar essas pessoas, dar uma satisfação a elas, muitas vezes passando por cima de nós mesmos. Por mais que a pessoa diga: Eu não estou ligando para o que dizem de mim, isso só se aplica às pessoas com as quais ela não se importa. Que interessa para gente merece que pensemos duas vezes antes de fazer alguma coisa a fim de investigar como isso vai afeta-la. Sartre já dizia: O inferno sao os outros. Mas eu digo, nós fazemos dos outros o inferno, quando colocamos o que eles pensam antes do que nós pensamos. Mas não é fácil. Acho que a coisa mais dificil que alguem pode tentar é tentar ser ele mesmo. Mas é uma luta diaria que nós temos que enfrentar a fim de descobrir quem somos nós na verdade (por favor não deixem de ver o post "O que define quem?" também de autoria do Aluízio). É fato que nós todos temos um personagem para cada situação. Só que acabamos sofrendo do mesmo mau relatado em 'A tabacaria' de Fernando Pessoa

    Fiz de mim o que não soube,
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    0 dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.

    Não se diz que o primeiro passo para solucionar um problema é aceitar que ele existe? Então, vamos aos poucos, buscar diferenciar o rosto da máscara para não nos perdemos no caminho ou para reencontrá-lo.

    Quanto ao concurso, não encare como uma obrigação, se não é o mesmo que força uma criança a tomar um remédio ruim, ela fará de tudo para fugir. Estabeleça o novo concurso como um novo desafio. Estipule metas e prêmios pelo seu esforço e suas conquistas (mesmo as pequenas). Como megalomaníaca que sou para mim é dificil ficar feliz por cada capítulo vencido, mas quando aquele capitulo de 30 paginas te ajuda a resolver aquela questão decisiva, você passa ver as coisas de outra forma. Se puder arrume alguém para estudar com você. Um companheiro dá aquele empurrãozinho crucial, sem falar que é bem mais divertido.
    Beijos se cuida!
    P.s. adorei a frase. vou coloca-la no header do site. depois me diz que é o autor

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  2. Que post lindo. Minha frase favorita: "O que valorizo são as nossas vitórias contra os nossos próprios obstáculos."

    Ouvia muito uma vozinha dessas quando eu enchia a boca para dizer que não gostava do Direito. Ela me perguntava "Tem certeza que não gosta? Ou fala que não gosta porque é mais fácil desdenhar de algo em que você não é boa?"

    Hoje minha realidade me permite não querer fazer outro concurso, pelo menos por enquanto. Essa necessidade concurseira é mais massacrante dentro do Direito, porque quase 100% das pessoas que entram na faculdade têm isso em mente. Como também vivenciei a realidade de outro curso de graduação, vejo que lá as prioridades são os méritos acadêmicos: fazer mestrado, doutorado, escrever artigos... Claro que isso é também uma preocupação com os concursos para professor, mas a iniciativa privada garante um sustento enquanto as universidades não chamam.

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