segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A Necessidade de Mortes


No post anterior, falei brevemente sobre os 12 passos da “Jornada do Herói” e da importância dos mentores, não só para o herói, mas também para o leitor. Nesse post, vou falar sobre perdas e mortes de personagens. Inevitavelmente, vai ter spoilers, esteja avisado.

A morte de um personagem, geralmente alguém de importância para o herói da história, pode ser tanto a motivação para o herói embarcar na sua jornada quanto a grande provação que ele passa antes de finalizá-la. No primeiro caso, a morte é impactante para o personagem mas não para o leitor, pois acontece logo no início do livro, e o leitor ainda não conhece nem o mundo nem os personagens envolvidos com o herói. Esse é o caso da mãe e do irmão de Jorg Ancrath, nos livros de “The Broken Empire”.

No segundo caso, o leitor sente, juntamente com o herói, a perda de alguém querido e idolatrado, muitas vezes, o próprio Mentor sobre que eu escrevi anteriormente. Choque, espanto e surpresa são só o começo da enxurrada de sentimentos nessa hora. Dizemos que isso não aconteceu, não pode ter acontecido. Continuamos lendo para ter certeza que o personagem não morreu, mas ele morreu. Sentimos raiva do autor, dizemos que não vamos continuar lendo os livros. Até que, finalmente, aceitamos que a morte faz parte da vida, e que crescemos com ela. Somos forçados a andar com nossas próprias pernas, com as lágrimas escorrendo pelo rosto, sem ter mais alguém para nos dizer que vai ficar tudo bem. A partir daí, somos nós que passamos a dizer que vai ficar tudo bem, repetindo essas palavras na esperança que elas se tornem verdade.

Isso acontece tão recorrentemente, que, para mim, já não é mais surpresa. Eu praticamente já leio livro procurando o personagem querido do herói que vai morrer lá na frente. Vamos ver alguns exemplos (spoiler alert!!!):
  • Primeiro, os clássicos, que já se tornaram conhecidos do grande público. Em “As Crônicas de Nárnia”, Aslam morre, mas volta. Dizem por aí que esses livros são uma referência ao cristianismo, e que Aslam é o equivalente a Jesus Cristo. Então, ele ressuscita. Não satisfeito em ter matado Aslam, o autor mata, no último livro, quase todos os personagens principais. Somente Suzana fica viva, por ter abandonado a crença em Nárnia.
  • Em “Harry Potter”, muita gente morre, e Dumbledore é só o mais querido deles. Cedric, Snape, Sirius, Lupin, Nymphadora, Alastor, Fred Weasley, Dobby e até a coruja Hedwig. Incluo aqui os pais do Harry, James e Lily, que já estão mortos desde o início da história.
  • Em “Crônicas de Gelo e Fogo”, a gente já está até acostumado com personagens legais morrendo. Eddard Stark foi o primeiro e, foi com ele, que eu fiquei (meio) imunizado à morte de personagens. Depois dele, ainda vieram Robb e Catelyn. Catelyn ainda conseguiu voltar dos mortos, salva pelo sacrifício de Beric Dondarrion. Khal Drogo morreu depois de muito sofrer. Oberyn Martell é morto pelo Montanha, Gregor Clegane. Jamie Lannister se redime depois de perder a mão da espada, o que, para ele, foi pior que a morte de toda sua família. Brienne de Tarth é enforcada pela Catelyn, mas depois aparece viva de novo, o que quer dizer que ela não morreu pendurada. Jon Snow leva uma facada e pode ter morrido no final do quinto livro.
  • Em “The Darkest Minds”, a personagem principal, Ruby, acaba gostando do personagem que se torna o seu mentor, Liam. Ele não morre, mas perde a memória. Pior que isso, é a própria Ruby que entra na mente dele e apaga as memórias.
  • Em “Instrumentos Mortais”, é a vez do irmão mais novo de Izzy e Alec Lightwood, Max, morto pelo verdadeiro irmão da personagem principal Clary Frey, o Jonathan Christopher.
  • Em “Jogos Vorazes”, Rue morre no primeiro livro, Cinna no segundo, e a irmã da Katniss, Primrose, no terceiro. Além disso, a mãe delas deixa o Distrito 12 e vai morar em outro lugar, assim como o melhor amigo da Katniss, Gale. Não é a toa que a pobre entra em depressão.
  • Em “Correr ou Morrer”, o melhor amigo do Thomas, Chuck, morre no primeiro livro. Newt morre no terceiro. A menina por quem Thomas se apaixona, Teresa, também morre nesse livro. No quarto livro, “The Kill Order”, que acontece antes de tudo, todos os personagens principais morrem, mas de um jeito muito legal, levando esperança para a humanidade. Talvez, por isso, eu tenha gostado mais desse último do que dos três primeiros.
  • Na série “Divergente”, os pais da Tris, Natalie e Andrew, morrem no fim primeiro livro. Até isso acontecer, um dos amigos de Tris, Al, se suicida e Tris põe uma bala na cabeça de Will, o namorado da sua melhor amiga, Christina. No terceiro livro, Tobias ajuda a causar uma explosão, causando um dano cerebral em Uriah. Detalhe que Tobias tinha prometido ao irmão de Uriah, Zeke, que o protegeria. Sua mãe, Hana, e seu irmão, Zeke, são levados até o hospital quando as máquinas são desligadas e Uriah morre. Durante parte da revolução, o irmão de Tris, Caleb, deveria ir numa missão onde ele acabaria morrendo, inevitavelmente. Tris vai no seu lugar, e é ela que morre, deixando Tobias na fossa.
  • Por último, o que eu achei a morte mais trágica. Em “The Dresden Files”, o personagem principal, Harry Dresden, já é um adulto, e já passou por diversas provações, como ter vivido em um orfanato, ter matado o seu primeiro mentor, Justin DuMorne, ter matado a sua paixão de adolescência, Elaine Mallory (ela ainda está viva, mas Harry só descobre isso depois), quase ter sido sentenciado a morte pelo Conselho Branco (o conselho que rege as leis dos magos), e ter sido perseguido pelo Warden Donald Morgan durante o início de sua vida adulta. Além disso, no decorrer dos livros, sua primeira aprendiz, Kim Delaney acaba morrendo; sua nova paixão Susan Rodriguez, se torna meio-vampira da Côrte Vermelha e o deixa; Shiro Yoshimo, um dos Cavaleiros da Cruz, morre, trocando sua vida pela de Harry; Harry quase perde seu braço esquerdo queimado; Lasciel, a “sombra” um anjo decaído que vive na mente de Harry e acaba virando sua amiga, se sacrifica por ele; o Warden Morgan, que o perseguiu por um bom tempo, ganha a admiração de Harry, mas acaba morrendo; sua nova namorada, a Warden Anastasia Luccio, o deixa; e, finalmente, o Cavaleiro da Cruz Michael Carpenter, um dos seus melhores amigos, sofre graves e irreversíveis danos físicos durante o decorrer de um dos planos de Harry. E aí, como fazer sofrer alguém que já tem ampla experiência nesse assunto??? Simples: dê a ele mais e tire tudo de uma vez. No 12º livro, “Changes”, Harry descobre que tem uma filha com Susan Rodriguez, e que ela foi sequestrada pelos vampiros da Côrte Vermelha. Durante o livro, o escritório de Harry explode; seu carro, o Fusca Azul, é destruído; e seu apartamento é incendiado. Susan completa sua transformação em vampira, e Harry, mesmo ainda apaixonado, é obrigado pela situação a matá-la. Molly Carpenter, a nova aprendiz de Harry e filha do antigo Cavaleiro da Cruz Michael Carpenter, sofre graves ferimentos. Harry salva sua filha, mas não pode ficar com ela por causa do perigo que ela corre por ser sua filha. No finalzinho do livro, Harry leva um tiro no peito. Pior que isso?? Harry morre, mas morrer teria sido fácil demais, então ele vira um fantasma e procura do seu assassino no livro seguinte.
Menções honrosas a Gandalf em "Senhor dos Anéis", e a Mestre Yoda e a Obi-Wan Kenobi em "Guerra nas Estrelas".

Valeu,
Correspondente Anônimo

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