terça-feira, 24 de junho de 2014

A Necessidade de Mentores

woody harrelson as haymitch abernathy

SPOILERS!!! Essa postagem contém revelações de enredo de diversas histórias. Leia por sua conta e risco!

De uns tempos para cá, eu percebi certas características recorrentes, padrões, em livros de fantasia. Seguindo dicas da Garota_D, eu procurei na internet o que é conhecido como “A Jornada do Herói”, (http://pt.wikipedia.org/wiki/Monomito, http://www.revistafantastica.com.br/em-foco/a-jornada-do-heroi-os-12-passos-de-campbell), uma série de eventos que acontecem com o personagem principal para o desenvolvimento da história, definido por Joseph Campbell no seu livro “O Herói de Mil Faces”.

Os 12 passos são, de certa forma, os seguintes: O herói está em seu mundinho; Chega alguém (ou alguma coisa) que o chama para uma aventura; Ele recusa inicialmente; Ele encontra algum mentor que explica por que ele deve entrar na aventura; O herói entra nesse novo mundo; Passa por provações, faz inimigos e encontra aliados; Aproxima-se do seu objetivo; Ele passa por uma grande provação; O herói vence e conquista a recompensa; Ele faz o caminho de volta para casa; Nesse caminho, ele resolve alguma pendência de alguma trama secundária; Finalmente, o herói chega em casa, mais experiente e maduro, transformado pela aventura.

Nesse post, gostaria de focar no personagem do Mentor, um personagem que já vive há algum tempo na situação onde o herói está entrando agora. No caso de ficções de fantasia, os mentores explicam como é o novo mundo onde o personagem vai entrar (Hagrid, em “Harry Potter”, Sr. Castor em “As Crônicas de Nárnia”, Jace Wayland em “Instrumentos Mortais”, Linda Downey em “A Saga dos Herdeiros”) ou, no caso de o personagem já viver no mundo onde a aventura vai ocorrer, ele explica quais são as “regras” da aventura que o personagem vai ter que obedecer (Haymitch Abernathy, em “Jogos Vorazes”, Liam em “The Darkest Minds”, Magnus Bane em “Instrumentos Mortais”, Dumbledore em “Harry Potter”, Chiron em “Percy Jackson e os Olimpianos”) ou explicam alguma coisa do passado, ainda desconhecida pelo herói, para que este decida o que fazer no futuro (Aslam, em “As Crônicas de Nárnia”, Dumbledore em “Harry Potter”, Luke Garroway em “Instrumentos Mortais”, Nick Snowbeard em “A Saga dos Herdeiros”).

Entretanto, o Mentor tem uma função maior do que simplesmente explicar ao personagem principal o que está acontecendo. Ele explica ao leitor como é esse mundo fictício, nos ajudando a construí-lo em nossa mente no momento da leitura (e que perdura até bem depois de acabarmos o livro).
O grande problema é quando o personagem do Mentor não existe ou é rejeitado pelo personagem que está entrando nesse mundo novo, ainda inocente. Por exemplo (spoiler alert!!!):
  • Em “Correr ou Morrer”, um bando de crianças, sem memória, é colocado em um labirinto. O personagem principal, Thomas, é o último a entrar nesse labirinto, onde algumas crianças já estão presentes. Quem é o Mentor??? Alguma criança sem memória, claro (Alby). E aí? Como é que uma pessoa que não sabe nada vai explicar alguma coisa a alguém??? Podre. No terceiro livro da série, é dada a chance ao Thomas de ele ter as memórias de volta. E ele rejeita. Legal, né. Se a gente não sabia de nada, agora é que fica sem saber mesmo. Resultado: no final, muita gente morre.
  • Não conseguindo explicar toda a história em “Correr ou Morrer”, o autor precisou escrever um quarto livro, “The Kill Order”, que acontece antes de tudo. Nesse, o personagem principal, Marc, tem um Mentor de vergonha, Alec. Esse livro é o melhor da série.
  • Em “As Crônicas de Nárnia”, o Edmundo, por um breve tempo, tem como Mentora a Feiticeira Branca, Jadis, e não se dá muito bem. Ele a rejeita, voltando para o lado de Aslam, e dos outros. Esse é um caso em que a troca de mentores é positiva, e o Edmundo passa a ser um dos reis de Nárnia, conhecido como Edmundo, o Justo.
  • Assim como o Edmundo, em “Instrumentos Mortais”, o Jace Wayland troca, por um tempo, de Mentor, seguindo as ordens de Valentine. Com sua experiência passada, ele percebe que o que Valentine faz vai contra o que ele acredita, e o rejeita ao final.
  • Em “Dresden Files”, Harry Dresden é um detetive particular que é um mago, e investiga acontecimentos sobrenaturais em Chicago. Seu primeiro Mentor, quando ele ainda era criança, foi Justin DuMorne, que usa magia negra secretamente. Em uma briga de magos, Harry mata Justin, e quase é condenado a morte, por utilizar magia para tirar uma vida. Quem o salva é o seu segundo Mentor, Ebenezar McCoy, que o instrui, baseado em princípios sólidos, em como utilizar magia para ajudar as pessoas. Outro caso de rejeição que tem um final positivo. Isso tudo acontece antes das histórias dos livros, onde Harry já é adulto.
  • Ainda em “Dresden Files”, depois de alguns livros Harry se torna Mentor de Kim Delaney. Em algum momento, ela não segue os conselhos de Harry e acaba morrendo. Posteriormente, Harry aprende com seus erros, se torna Mentor de Molly Carpenter, que segue os conselhos de Harry, por mais que não concorde. Ela não morreu até onde eu li.
  • Em “The Broken Empire”, o personagem principal é o príncipe Jorg Ancrath. Quando criança, sua mãe e seu irmão menor são mortos, e Jorg é salvo por ser escondido em um arbusto cheio de espinhos. Ele jura se vingar de quem mandou matá-los, e essa é a história. O livro conta a história que se passa agora, quando ele vai se vingar, e a história de quatro anos atrás, quando foi o atentado. Nesse meio tempo, Jorg rejeita o seu primeiro Mentor, o tutor Lundist, e se junta a um bando de cavaleiros fora da lei para seguir seu sonho de vingança. Muito sem graça, sem noção, e sem pé nem cabeça, um menino de 14 anos matando todo mundo, a torto e a direito. O segundo livro da série é um pouco melhor, quando ele passa a ouvir mais um novo Mentor, seu conselheiro do reino, Coddin, e o seu chefe da guarda, Sir Makin. Ainda não li o terceiro.
  • Em “As Crônicas de Gelo e Fogo”, a gente vê claramente os que tiveram bons Mentores, os que não tiveram Mentores, e os que rejeitaram os seus bons Mentores, e quais desses personagens são os mais admirados pelo público. Os filhos de Eddard Stark o tiveram como Mentor, e são grandes personagens nos livros. Por seguir a filosofia do pai, Robb acabou morrendo, assim como o próprio Eddard. Bran e Arya, ainda pequenos quando o pai morreu, acabaram procurando outros Mentores, que os guiassem em suas habilidades e desejos (Brynder Rivers (Corvo de Três Olhos, Vidente Verde) para Bran, e Syrio Forel e o Sacerdote dos Homens sem Face para Arya). Jon Snow, o bastardo de Eddard, foi para a muralha, e teve como Mentor o próprio Lorde Comandante Jeor Mormont, tornando-se o novo Lorde Comandante depois da morte deste. Sansa Stark acabou indo parar com Petyr Baelish, o Mindinho, e isso não tem como dar certo. Theon Greyjoy, coitado, recusou os ensinamentos de Eddard Stark, passou a seguir seu pai, Balon Greyjoy, e acabou torturado pelo bastado dos Bolton, Ramsay. Do outro lado do Mar Estreito, em Essos, Daenerys Targaryen teve como Mentor o Khal Drogo, que passou os ensinamentos dos Dothraki. Ela se tornou a mãe dos dragões, e, como ela mesma diz, é só uma garota e não entende nada de guerras, recebe a ajuda de outros Mentores, como Jorah Mormont e Barristan Selmy. Viserys Targaryen, o auto-intitulado dragão, não tinha mentor, e acabou com uma coroa de ouro fumegante em sua cabeça. Por último, o personagem mais odiado da atualidade, Joffrey Baratheon, não teve como Mentor nem seu pai verdadeiro nem seu pai falso, e acabou morrendo envenenado em seu próprio casamento.
Esses foram só alguns exemplos para mostrar que, quando o Mentor não presta, o personagem aprendiz não presta. Quando não há mentor, o livro não presta. E, quando o mentor presta, o aprendiz presta, o herói principal presta, a história presta, e o livro presta.

Menções honrosas a Gandalf em “O Hobbit” e em “Senhor dos Anéis”, e a Mestre Yoda e a Obi-Wan Kenobi em “Guerra nas Estrelas”, este último que foi um aprendiz (padawan de Qui-Gon Jinn), um mentor rejeitado (por Anakin Skywalker, o Darth Vader) e um mentor seguido (por Luke Skywalker, filho do Darth Vader).

Valeu,
Correspondente Anônimo.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A arte de fazer silêncio


Hoje em dia, quando todo mundo tem voz e vez (supostamente), as pessoas menosprezam o silêncio. Querem dar pitaco sobre tudo. Não se permite a abstenção da opinião.
Muita gente acha o silêncio constrangedor. Pelo contrário, o ato de permanecer em silêncio entre outras pessoas pode demonstrar intimidade, cumplicidade, uma verdadeira transmissão de pensamento.
Isso fica bem claro se você observar pessoas que convivem juntas durante muito tempo. Elas completam as frases uma da outra, comunicam-se através de olhares significativos.
Eu sou uma pessoa tagarela, eu assumo, mas cada vez mais eu percebo a preciosidade que é o silêncio, a contemplação, a reflexão.
Talvez nesse momento em que estou sendo bombardeada com a companhia de pessoas que estão me importunando com sua tagarelice, eu me olho e percebo que posso ser mais comedida.
No final das contas, acho que o problema não é a tagarelice em si, mas a impertinência dela. De o tagarela não perceber que está incomodando extremamente.
Se você fala, fala e fala e seu (suposto) interlocutor (vulgo penico) não responde ou apenas balança a cabeça, eis sua primeira dica.
Se deixa você falando sozinho e, a despeito dessa grande pista, você o segue e continua o blá, blá, seu caso é crônico.
Os meus 'problemas' eu estou aguentando enquanto posso, antes de ser grossa e mandar calar a boca. Mas até para isso há uma oportunidade certa.

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