sábado, 9 de maio de 2009

Só chega no outro lado se atravessar!

"O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação".

"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe".

Oscar Wilde

Logo que acordo, ligo o rádio. E como ultimamente tem tocado várias músicas do Michael Jackson e logo depois o locutor repete a notícia, fiquei sabendo que ele vai começar uma nova turnê. Por causa disso, esses dias eu tenho ouvido muito o Michael, ou no rádio ou numa coletânea dos maiores sucessos dele que tenho. E olha, como eu gosto da voz e admiro o talento musical daquele cara! Ele é (ou era) um daqueles artistas que participa do processo criativo inteiro, compondo letras, músicas e arranjos e mesmo que você não goste, mas se se permitir deixar o preconceito de lado e escutá-lo cantando sucessos como Ben, vai perceber a extensão vocal que ele tem. Sim, continuando, lá estou eu de manhã enquanto ouço uma música, aí começa um processo que parece um fractal: a música me lembra uma coisa ou pessoa, que me lembra um fato, que me traz um sentimento, e daqui a pouco eu nem sei mais qual foi o primeiro elo dessa corrente, mas eu já estou lá no vigésimo elo conversando comigo mesmo, criando diálogos, brigas, emoções e por aí vai. Mas o fato é que tenho refletido sobre a vida dele (ou pelo menos no que a imprensa me passa ser a vida dele). Lembro do artista que chegou a ser chamado de “rei do pop”, de sua escalada até o topo, do toque de Midas e, logo em seguida, vieram o declínio com processos judiciais por pedofilia (que resultaram em acordos), bens sendo leiloados para pagar dívidas e o festival de esquisitices bizarras. E a vida dele, numa escala e cenário diferentes, lembra a minha e a de vários habitantes desse planeta. E depois de ter lido o post Descompasso da Raquel, o comentário que a Karol deixou lá (com o qual me identifiquei por completo), e de ter me lembrado do livro O Retrato de Dorian Gray (cuja foto ilustra esse post), coloquei tudo isso no meu liquidificador mental e o que surgiu vem a seguir.

Definitivamente o modelo atual de educação (criação) que recebemos não nos prepara para sermos adultos. Deixa eu retroceder para depois explicar: acho que se tem uma fase propícia pra enlouquecermos, essa época é a adolescência. Nela, os traumas adquiridos na infância vão aflorar com toda força e temos que aprender a lidar com eles, porque aí começam a surgir as relações com o mundo, com as pessoas, com o trabalho, estudo e outros grupos e aí, meu amigo, ou explode ou implode. Nessa fase você é então, jogado na arena e precisa aproveitar e/ou enfrentar essa oportunidade (que pode ser bem dolorosa) pra aprender a ser gente. Você pode também, se quiser, vira um daqueles esquisitos sem amigos que têm um mundo próprio e que se fosse possível dissecar a alma humana a olho nu, neles encontraríamos todas as doenças catalogadas na psicologia. Ainda tem uma outra alternativa muito comum à maioria (que antes eu invejava até descobrir a falha): faça de conta que está tudo bem e sustente todas as evidências externas de que sua vida está seguindo o curso da humanidade, mesmo que essa casca tenha menos de um milímetro de espessura, o que importa é parecer, porque a partir daí todos vão lhe tratar como se tudo estivesse bem. O fato é que, atravessada a adolescência e enfrentadas todas as situações de guerra lá surgidas, supostamente deveríamos atravessar o portal para o mundo dos adultos preparados para assumirmos o papel de líderes, pais, chefes ou qualquer outro título que indique estar no comando de outros. Well, I’m afraid I was sadly mistaken...

Eu, despreparado que fui no aspecto educação emocional, com baixa tolerância à frustração e raramente estimulado a sair da minha eterna inércia, quando criança JURAVA que à medida que eu fosse ficando mais velho, por um processo automático, natural e involuntário, com o passar do tempo iria me tornar descomplicado, seguro, sereno e sábio e todos os outros bons atributos de um adulto. Chegar nessa fase seria como o fim de um grande e lento download feito ao longo dos anos onde na instalação desse megapacote viriam todas as regras que eu precisava saber. Completando a minha ilusão eu acreditava que na virada dos 30, como num truque de mágica, ta-daaa!!! Virei adulto! Como eu aguardei esse momento! Só que quando eu abri os olhos vi que nada aconteceu comigo! Eu estava parado lá atrás, no mesmo ponto em que eu resolvi parar pra esperar pelo fim do download. Oops. Sem chão, gritei por ajuda: “Ei! Meu mecanismo veio defeituoso, onde eu conserto?” e minha voz interior sempre disposta a me dar porrada, disse: “Pare de fazer perguntas imbecis, vá procurar um psicólogo, cresça ou morra infeliz, mother fucker!” Lá estava eu com a sensação de um menino de 12 anos que teve que ir pra uma turma da 1ª série.

Hoje olho pra mim, para vários adultos e idosos que conheço e vejo que idade e sabedoria não andam necessariamente de mãos dadas. Ou decido mudar o que está errado ou isso vai seguir comigo até o fim. Mas como consigo mudar? Saber que preciso é um bom começo. E como saber o QUE devo mudar? Sim, esse é o maior desafio. Conseguir olhar no espelho e enxergar de verdade é muito difícil, meu olhar está viciado. Tal qual Dorian Gray, evito (porque tenho medo ou não consigo) olhar a verdadeira imagem, só que ao fazer isso só me impeço de crescer, pois desconheço o material que devo trabalhar e por onde começar. Constantemente me pergunto quantos defeitos ainda tenho e que estão aqui do meu lado, evidentes, mas que não enxergo. No entanto, percebo que tem alguma coisa errada porque quando não estou bem, num estado de equilíbrio, não adianta querer me enganar, no momento que eu decido suspender as distrações e anestésicos, lá está a luz vermelha piscando, me chamando atenção. Só sei e acredito que todo mundo nasceu pra ser feliz e pra eu estar feliz, preciso estar equilibrado, em paz, consciente e no meu caminho.

Quanto ao Michael, sigo curtindo o artista talentoso e de uma certa forma aproveitando seu exemplo para entender que na maioria das vezes já temos dons e qualidades suficientes para sermos felizes, só nos resta discernimento para fazer bom uso deles. Beijos e abraços a todos.

3 comentários:

  1. Uau, Aluízio. Muito profundo e, particularmente pra mim, oportuno. No meu caso, andei me perdendo em tantas metáforas sobre reflexos e imagens, que foi preciso a Ianara me chamar a atenção. Por mais que o reflexo não seja a coisa em si, ele serve de referência para encontrá-la. O grande problema é não se deixar enganar e achar que o reflexo É a coisa em si.

    O comentário da Karol foi realmente muito perspicaz. O exemplo da voz foi perfeito.

    Quanto ao Michael, acho sim uma pena um talento daqueles ter se ofuscado em meio a tantos escândalos e crises. Não somente canta bem, mas dança bem. Ele praticamente criou um estilo de dança.

    E vamos lá, vamos continuar nesta nossa busca.

    E rir dos passos em falso.

    Eu que o diga.

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  2. Como eu disse no comentário ao post da Raquel (Descompasso - Reflexos), crescer/viver é perigoso e por causa disso emocionante.Concordo com você, Aluízio, a gente não é preparado para se tornar adulto. Ninguém se preocupa em nos explicar o quanto é difícil lidar com as dúvidas que nos assolam diariamente. Ou até tentam, mas querem nos fazer engolir aqueles explicações padrão, que nunca se adequam ao nosso caso. Enquanto isso, você vê sua imagem no espelho envelhecendo, mas por dentro você se sente a mesma criança insegura. Com uma grande diferenças: as cobranças vão aumentando proporcinalmente a sua idade. Com 18 anos, você já tem que decidir o que quer ser da vida e escolher a faculdade certa. Resta saber certa para quem, porque muita gente sempre sonhou trabalhar por exemplo com moda e se vê pressionado pela família a fazer medicina (porque dá dinheiro). Terminada a faculdade você tem ser um profissional brilhante e de sucesso (largar tudo e seguir seu sonho, ainda que você que começar do zero, nem pensar!) e no meio disso tudo, adquirir independência, casar, formar família, ter filhos, conseguir ascender na carreira. Depois você tem que amadurecer, ser uma pessoa experiente, e por fim, você fica velho, ninguém mais te leva a sério e você passa o resto dos seus dias, estragando seus netos s, fazendo caminhadas, jogando bingo fazendo cruzadinhas no jornal ou no fundo de uma rede. Quando as pessoas saem desse molde rígido, nós mesmos torcemos o nariz. "Olha aí... já fazer 40 anos e ninguém sabe o que ele faz da vida". "Olha esse véio safado com uma menina tão novinha, dá para ser neta dele...".Afinal a gente também cobra isso das outras pessoas.
    Eu tenho meus 23 anos e as correspondentes rugas, mas sinto que parei de crescer... parei de contar nos 16... Estou prestes a terminar a faculdade e sinceramente estou com medo do que me espera no futuro. Estou ansiosa pelo que me espera, mas ao mesmo tempo tenho vontade de apegar com todas as forças à graduação que vou terminar. Estão me tirando o chão. Acho que essa é a sensação que para mim significa crescer: perder o chão. Explorar um novo mundo, encarar novas pressões, novas cobranças, mas também novas descobertas e novas realizações. Se ninguém nos ensina, não há outra saída a não ser aprender na marra, quebrando a cara, sofrendo com as dúvidas, a dor, o remorso e a culpa de um lado, com a conquista, a adrenalina, a vitória do outro. Andando na corda bamba. Se cair, do chão a gente não passa. Vamos usar esses traumas, medos, culpas, remorsos, raiva, etc. como combustível para impulsionar nosso foguete da vida a alturas inimagináveis. O céu não é mais o limite.

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  3. Engraçado que lendo o seu texto, lembrei de que um dia desses eu estava conversando com um amigo meu e nós estávamos fala de um papo sério aonde ele me pedia a minha opinião sobre o assunto, e eu estava lá falando o que eu pensava e sem perceber vi que estava sentado em frente a um espelho e falando o papo sério fiquei me olhando no espelho enquanto falava, cara! que sensação estranha eu tive ao me ver nele falando sério, juro! parecia outra pessoa, olhava pro meu rosto e não me identificava com o meu papo. Não é que parecia não ser eu, pois eu olhava no espelho e não tinha percebido o IRAN (o cara crescido) falando sério, acho que a gente se olha demais que nem percebemos que crescemos, ficamos adulto. Seria interessante se passássemos pelo menos um mês sem nos vermos pra notarmos as diferenças, tanto físicas como de comportamento e principalmente de sentimentos conosco mesmo. Acho que enxergaríamos as mudanças do tempo e com elas as melhorias dos traumas.

    PS. Tu sabe que eu adoro um espelho né?! como assim ficar 1 mês, afiiii ! ai be live!!! rsrs

    Abração.

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