domingo, 17 de maio de 2009

Ser de carne e osso


Acho que esse é o momento mais propício para escrever esse post filosófico sobre as angústias da vida, pelo menos para mim. Devo primeiro admitir que tive uma dificuldade enorme de pensar como estruturaria esse post, mas cheguei a conclusão que o negócio é deixar rolar. Vamos lá.

Primeiro, quero dizer que o estudo da Filosofia, além de ter me rendido amigos maravilhosos que eu guardo no coração até o hoje, me possibilitou aprender a observar as coisas de outro ângulo e eu atribuo a isso, a minha capacidade de reflexão. Essa é a luz filosófica. Por outro lado, a Filosofia me tirou o chão de outras tantas coisas de que eu me achava tão certa e me causou angústias e medo em relação à vida. Essa é a escuridão filosófica. A perda das certezas basilares nos obriga a procurar um novo solo em que pisar.



Segundo, Aluízio, você acertou, eu realmente passava o caminho de casa até o colégio no ônibus pensando na vida (Tabapuá - Centro). Mas mais importante do que a reflexão é a prática. É tentar, fazer experiências, aprender, errar e aprender mais. Depois de começar na Filosofia piorou ainda mais. Eu fazia o trajeto do CH da UECE (Luciano Carneiro) até a José Basto à pé e tinha dias que nem me lembrava como tinha chegado em casa, tão perdida em pensamentos como estava.



Terceiro: a coisa mais importante que eu aprendi e que uma coisa muito difícil de fazer é: conhecer a si mesmo. Se há uns sete anos atrás alguém me perguntasse quem eu era, não teria dificuldade alguma de falar. A gente começa pelo nome, depois o que faz da vida, o que gosta de fazer e ai vai. Só que essas coisas não meros acidentes... Percebi que a gente fala tanto disso como fosse nosso significado, nossa identificação que esquecemos as carateristicas mais relevantes. Por um lado isso é bom. Imagine se ao se apresentar você começasse assim: Oi, Tudo bem? Meu nome é fulana. Eu sou uma pessoa extrovertida, expansiva, gente boa, mas altamente insegura, mesquinha, tenho medo de mudanças e sou muito ciumenta. Por outro lado, ao nos omitir essas informações e substituí-las pelas primeiras, nós nos identificamos apenas com a nossa 'casca', aquilo que a gente usa externamente.


Eu digo por experiência própria e recomendo: é bom sentar diante do espelho e se conhecer. Passar além da aparência externa (aquela que nós apresentamos ao outros) e enfrentar o nosso verdadeiro eu. Vai ser difícil e é um processo contínuo. Mas é o primeiro passo.
Que fique bem claro que eu não estou defendendo que a gente saia por ai dando a cara à tapa dizendo aos quatro ventos os nossos defeitos. Pela própria estrutura da nossa sociedade. Pelo contrato social (não aquele do Rousseau) que nós travamos entre nós (as convenções sociais), você ser taxado de esquisito se começar a divulgar o seu "verdadeiro eu" por ai. Esse processo é íntimo. Eu sinceramente acho que deve ser só seu. Esse momento de descoberta vai te dar o plano geral que você precisa para começar a se entender, a antecipar suas reações e sentimentos, se preparar para eles ou mesmo evitá-los.

Quarto: Você não precisa se aceitar como é. Peraí, peraí, antes de fazer essa cara, termine ler o tópico. Sim, é isso mesmo. É papo furado essa história de você é como é e tem que aceitar isso. Na minha humilde opinião, ao nos conhecermos, nós divisamos os nossos limites e nossas capacidades e de posse dessas informações, nós estamos prontos para começar a mudar, a chegar ao nosso objetivo: o que queremos ser. Como tudo na vida não é fácil. Eu, por exemplo, sei que sou uma pessoa muito emocional, explosiva e que não gosta de ser contrariada. Sabendo disso, se submetida a uma situação de muita pressão, posso fazer ou dizer coisas quais eu não tinha a real intenção de fazer e de que eu com certeza vou me arrepender depois. Tenho que me aceitar assim? Passar o resto da vida me arrependendo de ter brigada com pessoas só porque eu tenho pavio curto? É hora de mudar. Algumas coisas a gente consegue mudar logo e é muito gratificante. Outras são tão arraigadas na gente que o processo de mudança é longo, doloroso e frustrante e ficamos imensamente tentados a desistir. E desistimos. E começamos de novo e mais uma vez desistimos. A frustração, a impotência tomam conta. Uma coisa que percebi à duras penas é que quanto nós somos as vítimas dos "defeitos" que queremos corrigir, nós passamos a ter uma visão mais nítida do quão prejudiciais eles são. E acontece algo importante: nós agora vamos querer mudar não só pela gente, para ser pessoas melhores, mas mudar para evitar magoar às outras pessoas. Isso nos dá um novo impulso para tentar de novo. Agora eu senti na pele como o meu amigo fica quando desconto o estresse do dia em cima dele. E quando estiver tentada a fazer isso, vou pensar duas vezes. Já é um começo. Posso até ter umas recaídas de vez em quando, mas elas vão servir para que saber que situações específicas me levam a explodir e a partir daí eu posso me preparar ficar "fria".



Quinto: Às vezes, saber de tudo isso não adianta nada. É muito fácil está de fora do problema, analisando-o friamente e dissecando-o, mas quando nós somos os personagens da nossa própria tragédia grega, essas racionações e receitinhas são suplantadas pelo medo, angústia, dor, remorso e lá se vai. É nessas horas que a gente precisa fazer algo que é difícil, para algumas pessoas, é mais doloroso do que o próprio problema: pedir ajuda. Ligar para aquele amigo de confiança e pedir os ouvidos, os ombros e os abraços emprestados. Pedir que ele te diga todas as coisas que você já sabe, mas que só farão efeito quando foram ditas por outra boca. Saber que se é de carne e osso e que ninguém se basta sozinho. Ter coragem de sair do pedestal em que às vezes a gente se coloca e expor o nosso frágil interior, aquele que fica debaixo da nossa 'casca'. Da mesma forma, quando aquele amigo, muitas vezes nem tão amigo assim, ligar, pare o que você estiver fazendo para ouvi-lo. Lembre-se de quanto foi duro para ele tomar a decisão de fazer essa ligação ou de bater na sua porta. Apesar de não saber bem o que dizer, arrisque, ou mesmo escute, às vezes é só o que ele/nós precismos.

Desculpe se eu adotei o tom meio auto-ajuda, mas é minha mania de tentar ser didática. No final das contas, acho que nós temos de parar de pensar que a grama do vizinho é mais verde e começar a ver que o nosso vizinho tem a mesma sensação quando olha para nossa. Não devemos ter medo das nossas dúvidas e sentimentos, mas devemos, quando quisermos, ter forças para tentar mudar, ainda que seja difícil (e na maioria esmagadora das vezes é), continuar. Keeping walking. Lembremo-nos: a cada dia recebemos uma nova chance de recomeçar e buscar sermos melhores do que fomos ontem.

Ah sim, nem expliquei porque esse era o momento mais propício para escrever sobre iss. Bem daqui a mais ou menos duas horas eu vou enfrentar a prova da OAB e estou muito ansiosa. Aproveito para agradecer aos amigos pelos votos de sucesso. Tenho a consciência limpa de que estudei e que o resultado do meu esforço deve ser a aprovação. Mas não vou mentir que estou com a barriga revirada de nervoso e quanto estiver mais próximo da prova estarei suando frio. Afinal, não é só uma prova. É o primeiro passo rumo ao meu futuro. Um novo chão em que pisar e daqui de onde eu vejo ainda não sei se é firme.
Bem, é isso. Espero que tenha sido de alguma ajuda.
As ilustrações do post são (não preciso nem dizer) de Dali, salvo a segunda figura, não sem que é o autor... achei aqui.

2 comentários:

  1. Karolis, depois de ler teu post tô aqui tentando colocar em palavras todos os benefícios da vulnerabilidade. Expor-se nos deixa frágeis, mas definitivamente nos ajuda a permitir a auto-aceitação e acredito que a admissão é o primeiro passo pra mudança. Wow! Minha cabeça fica brainstorming total com esses assuntos, caralho!! Porque que ao mesmo tempo em que parece ser tão lógico é também tão difícil por em prática?

    E enquanto estava lendo me toquei de que é uma ilusão nossa achar que o outro não percebe nossas características (não vou falar em termos de qualidades ou defeitos), portanto, tentar esconder só nos impede de crescer. Lógico que nem todo mundo percebe. O outro que falo é aquele com quem convivemos e nos relacionamos. E tb concordo que existe uma regra de convivência que nos diz pra não sermos 100% nós mesmos. Acho até saudável, promove a socialização (e a hipocrisia, rs!) sem falar que jogar pérolas aos porcos, ou seja, expor-se pra gente cretina pode resultar em fazerem mau uso da nossa honestidade. Mas definitivamente quero crescer e uma das ferramentas é aceitar a minha sombra.

    E como vc mesma disse, mais importante que a reflexão é a prática, mas também é a parte mais difícil. Mas, whoever said that the street was paved with gold?

    Ai, ai, porque eu não tomei a pílula azul quando o Morpheus me deu a chance de escolher entre viver ou existir? ;-) Ha, ha! Tô arrependido nããão, brincadeira! Eu sou o The One e em breve eu vou aprender a controlar e a usar meus self-healing/ever-thriving-and-growing super powers! ;-D

    E vc está intimada a postar periodicamente um tópico filosófico, ok? Muuuuito bem escrito e muito maduro pra sua idade, garota D+!

    Beijo!

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  2. Afe, obrigada, tô até vermelha! Ufa, fiquei meio sei lá, ao publicar esse post. Não sei explicar. Vou ver se consigo cumprir sua intimação. Ah, tenho um livro para te emprestar que tenho certeza que você vai adorar. O nome dele é Mais Platão, menos Prozac. Vou te dar umas dicas sobre ele, porque tem muita coisa inútil, mas o método de reflexão que ele ensina, chamado PEACE é bem interessante.
    Beijos!

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