quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ser livre

“If we admit that human life can be ruled by reason, then all possibility of life is destroyed”.

Christopher McCandless

Ontem terminei de assistir o filme “Na natureza selvagem”. Intrigante. Passional. Triste. Apaixonante. Comovente. Inquietante. Lindo. O filme definitivamente entrou na minha lista dos top 10. Quando terminou, desliguei tudo, menos eu mesmo. Simplesmente ainda não consegui parar de pensar na jornada pessoal que o personagem principal empreendeu e a cada momento volta a minha mente uma frase, uma cena ou um sentimento. Esse filme é no mínimo perturbador pelo misto de emoções que faz virem à tona. Eu ainda estou “uaaaaau, meu Deus!” E passei o dia me lembrando de um trecho de uma música da Alanis onde ela diz I wanna return to what I was born to be...

Sim, acredito que cada um de nós realmente nasceu para ser alguma coisa, mas como a Karol comentou em seu post Ousadia, é preciso muita coragem pra romper com tudo e cumprir a ordem do coração. E também acredito que boa parte desse vazio que nunca nos abandona é causado pela desconexão com nós mesmos. A partir do momento em que a motivação das nossas escolhas é externa, nesse ponto começamos a nos abandonar. “O que vão pensar de mim se eu (não) fizer/disser/escolher...?”, “Preciso vencer, pois meu vizinho venceu.”, “Quero que me aprovem/amem/admirem.”, “Não tenho coragem de...” "Preciso dar orgulho aos meus pais" etc. são apenas alguns dos inúmeros pensamentos que nos desviam de nós. Mas aqui dentro, assim como dentro de cada um, tem alguém que há muito tempo quer preencher esse tão conhecido buraco na alma e quer sentir a certeza de estar no próprio caminho e em paz consigo mesmo. E não tem caminho igual, cada um tem que percorrer o seu rumo à auto-descoberta. O principal objetivo de Christopher McCandless era libertar-se de seu falso ser interior, da pessoa que ele tinha medo de se tornar se aderisse inquestionavelmente às convenções sociais.

Mesmo que não seja hoje ou amanhã ou semana que vem, mas tente assistir esse filme, você não vai se arrepender. Abaixo segue o trailer e logo depois alguns comentários que serão spoiler total. Recomendo não lê-los a não ser que você já tenha visto o filme, por que certamente vai tirar o encantamento da história que vai evoluindo, lhe cativando e captando até o final.

Beijos e abraços a todos.




OK, eis aqui abaixo os meus comentários. Só pra não correr o risco de você dizer que não resistiu e leu sem querer, escrevi o texto com suco de limão pra ficar invisível. Pra ler, coloque no fogo (marque o texto com o mouse!) ;-)

Sabe aquelas pessoas que por uma razão que você não consegue explicar têm uma aura, um magnetismo e que são cativantes? Christopher McCandless era assim. Ele tinha aqueles elementos que todo mundo ama mesmo sem identificar racionalmente: intensidade, convicção, paixão, verdade, pureza. Não foi à toa que todos que o conheceram quiseram dissuadi-lo de ir adiante, você quer ter alguém daquele jeito por perto. Assisti ao filme sem saber sobre o que era. Um amigo me recomendava havia tempos e eu na minha velha inércia nunca pegava na locadora, até que ele finalmente me deu de presente. Caralho! Eu sequer sabia que era baseado em fatos reais. Quando chegou o final, que mostrou uma das poucas fotos do cara, eu fiquei com um nó na garganta. A cena em que o Ron pede pra ele ficar é de chorar. Naquele momento você percebe a tristeza e a dor do homem experiente que já esteve no lugar daquele jovem obstinado e que com sua sabedoria entende que naquela idade é inútil tentar conter tanta paixão. Christopher era brilhante, inteligente e não fez o que fez por ser um aventureiro ou doido. Antes de partir ele provou pra si mesmo, pros pais e pro mundo que ele tinha capacidade de entrar até em Harvard, portanto o motivo de sua jornada não seria fuga, embora acredite que sua busca pela verdade tenha se originado em parte pela dor e por fuga dos sentimentos com os quais ele não conseguia lidar. Conversando com algumas pessoas que também viram o filme, percebi que a maioria dos homens gostou muito enquanto que as mulheres o acharam triste e/ou deprimente. Talvez devido a, via de regra, o homem querer ser livre enquanto a mulher tenda a querer estabelecer laços e criar raízes.

O filme fala de uma liberdade num nível quase utópico. Christopher pretendia ser totalmente livre do apego ao dinheiro, da hipocrisia, da vida de fachada, da política suja, dos valores burgueses e até do apego sentimental. Tal qual Leonardo di Caprio em Titanic, ele só precisava do ar em seus pulmões. Me doeu muito a cena em que ele quis voltar, mas não conseguiu. Ali ele já tinha fechado o longo ciclo que precisava percorrer e já havia aprendido o que o silêncio e o isolamento tiveram pra lhe ensinar. Angustiante também era a perda que os pais sofreram, porque creio que pior do que uma pessoa morrer deve ser ela simplesmente desaparecer, pois nesse caso a história não se encerra. A fotografia do filme é lindíssima. A trilha sonora também. Vou assisti-lo de tempos em tempos.

Beijos e abraços.

Um comentário:

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