segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

How ‘bout... Alanis?




“I have been running so sweaty my whole life urgent for a finish line
And I have been missing this rapture this whole time of being forever incomplete”

Voltei pra falar de música. Pra falar de alguém cujas composições influenciaram decisivamente na mudança ocorrida na minha personalidade nos últimos anos: Alanis Morissette. Nos anos 90 eu a ouvi e vi pela primeira vez (lançamento do Jagged little pill, 1996) e não gostei. “Que mulher da voz estridente!”, “E esse visual de doida? Mais uma drogada, maluca e gritadeira no mundo da música!”, eu pensei. Deixei-a pra lá. 8 anos depois, na hora do trabalho, uma amiga colocou pra tocar o segundo álbum dela, o Supposed former infatuation junkie (nessa época ela já tinha lançado 4 álbuns) e eu fiquei prestando atenção àquela música. O fato de eu já entender inglês facilitou as coisas. Eu pedi o CD emprestado, fui ouvindo e lendo as letras, o fascínio e a identificação foram crescendo e de lá pra cá não consigo parar de amar a Alanis.

Letras autoconfessionais: pela primeira vez eu vi um artista ser tão vulnerável nas letras e falar tão abertamente de sentimentos socialmente não aceitos e raramente admitidos (raiva, frustração, sede de vingança, inveja, autopiedade etc), da própria baixa autoestima, dos mecanismos (in)conscientes de autosabotagem, das desculpas que usamos para não sairmos do lugar, de como é fácil por a culpa no outro, de como as ilusões materiais podem cegar etc. Sim, muita gente já falou sobre isso. O mérito inspirador da minha Canadense é que ela usa isso como forma de assumir, de admitir para si mesma para então poder lidar com o assunto e evoluir, afinal, atitude Under rug swept (título do terceiro álbum) não ajuda ninguém a crescer. Ela mesma disse que quando estava entrando na indústria da música, era encorajada a compor letras que “rimassem” (???) e ela não queria necessariamente fazer isso, ela queria falar do que ela sente. Deu certo. Thank you, Alanis por me dar coragem de assumir que estou na merda quando eu estiver, porque isso definitivamente ajuda a sair dela de verdade.

Letras terapêuticas: tá achando a vida sem graça, sem sentido? Tá lidando com questões existenciais? Tome algumas doses de Offer, Excuses, Out is through, Fear of bliss, Tapes, Precious Illusions e com o tempo você se sentirá melhor. Pronto pra entender que a vida é uma ilusão e que, embora não faça parte dela você é capaz de curti-la? Ok, escute Utopia e Incomplete. Sim, ela leva você a jornadas espirituais intensas, só que como uma boa mestra/guia, ela te mostra as angústias paralisantes, dá uma perspectiva inteira do problema, mostra o quanto certas dúvidas/medos/inseguranças são universais e, se não te propuser uma solução, pelo menos você não vai se sentir tão E.T. enquanto ouve seus problemas cantados por suas voz hipnótica e, pra melhorar, dentro de uma combinação perfeita de instrumentos que se combinam de maneira mágica, tais com gaita, harpa, guitarra, flauta, piano, a maioria tocados por ela mesma.


Voz: putz! A mulher parece a Elis Regina cantando o próprio sentimento (minha dor é perceber...). Acho que do mesmo jeito que dizem (por mais maluco que isso possa soar) que dá pra sentir na comida quando alguém a faz com amor, do mesmo jeito dá pra perceber a diferença entre quem está cantando só pra gravar um CD pra quem está falando do próprio sentimento, seja ele, gratidão, dor, alegria ou desesperança. E embora eu entenda pouco de música (no sentido formal), mas dá pra perceber a extensão vocal da Alanis, a capacidade de alcançar notas altas sem perder a potência (ouça-se Uninvited) e a mudança de timbre e até mesmo de cadência que variam à medida que a letra fala sobre doçura, perdão, agressividade, fé, espiritualidade, raiva, escárnio, ironia. E é ela quem faz todos os backing vocals (exceto no último álbum quando pela primeira vez ela permitiu que um homem fizesse).

Ela está terminando dia 03/02 sua turnê aqui no Brasil do recente álbum Flavors of entanglement com apresentação em SP. Eu assisti o show dela aqui no Siará Hall e posso dizer que a sensação foi de sonho realizado. Eu estava frente a frente com minha Diva (sim, com d maiúsculo), uma semideusa, uma mulher que merece ser tratada como uma princesa e que insiste em dizer que is not used to liking that. E lá naquele instante eu me admirava de ela estar na minha cidade (que até bem pouco tempo eu achava que nem aparecia no Google Earth) e perguntava quantas pessoas já tinham sido influenciadas por aquela baixinha com alma gigante (ficou piegas?). E eu me dava conta do quanto eu gosto dela e da sua falta de pretensão, humor autodepreciativo, sensibilidade... Bom, eu poderia escrever um verdadeiro tratado sobre a Alanis, já tinha pensado em títulos como “Letras que falam de amor”, “A ruptura com a indústria que valoriza aparência” dentre outros, mas tô com medo de a Garota_D repensar o motivo por ter me chamado pra ser colaborador se eu continuar escrevendo textos tão longos. Beijos e abraços a todos.

5 comentários:

  1. Arrasou de novo, uhu! :o)

    Acho que, em cada música da Alanis, há pelo menos um verso para cada um de nós. Pelo menos. Pode ser que a letra inteira seja uma mensagem para cada um de nós. Ela é mais um daqueles que mostram que, falando do particular, falamos do universal.

    Vou ouvir Not As We agora e pensar exatamente como vc: "Thank you, Alanis por me dar coragem de assumir que estou na merda quando eu estiver, porque isso definitivamente ajuda a sair dela de verdade."

    I hope so. ;o)

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  2. Tem toda razão, Raquel. Não tem como não se identificar com alguma coisa que ela diz. Ela tá só sendo humana nas letras. Beijo e obrigado.

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  3. Depois de tantos elogios, acho que vou dar uma chance para Alanis... :]!
    Beijos!

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  4. Obrigada Aluizio por expressar tão perfeitamente em palavras os sentimentos e as opiniões que igualmente nutro em relação à Alanis!!! Simplesmente demais!!! E obrigada Alanis!!!

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  5. Maravilhoso o txt!
    Abração pra todos vcs.
    Israel

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