terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Prosperidade


"Feliz Natal e Próspero Ano Novo!" 

Nesses dias essa deve ser a frase que a gente mais ouve e lê nos cartões de Natal, nas saudações e nas propagandas. Mas outro dia desses, relendo essa frase, algo me inquietou. Fiquei pensando... Festa Cristã e Prosperidade. Por que esse conceito me soou um pouco estranho? Lembrei de umas conversas que tive com algumas pessoas sobre esse assunto e resolvi dividir meu ponto de vista, com uma ressalva: minha análise vem da observação da realidade do Ceará, que é onde moro e, portanto, posso falar com algum conhecimento de causa e o pensamento que descrevo logo abaixo predomina nas classes menos instruídas e favorecidas. Os leitores do nosso blog de outros estados são mais indicados para dizer se essa realidade se repete neles também.

Martinho Lutero
autor da Reforma Protestante
O Cristianismo Protestante, que predominou na Inglaterra e depois EUA, em regra estimula a prosperidade econômica dos fiéis. É comum vermos na cultura americana e européia a visão natural de que a prosperidade nada mais é do que o resultado do árduo trabalho e empenho das pessoas, sendo, portanto, motivo de valorização dentro do grupo social e exemplo para os demais. A riqueza, assim, é para a maior parte dessas pessoas vista como mérito, recompensa e êxito, em nada se identificando com o pensamento católico de que “é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no céu”. Acredito, inclusive, que quando Cristo usou essa expressão na época, ele condenava o rico avaro, aquele que usava sua riqueza para propósitos puramente egoístas, numa sociedade com poucas leis onde possivelmente imperava o cada um por si. Mas ora, nos dias de hoje, existe pessoa mais indicada para fazer o bem e poder proporcionar melhoria aos outros do que aqueles mais abastados? Em tese, prosperidade gera prosperidade e deve ser estimulada. Um exemplo disso é que quando uma pessoa melhora de vida. tenta, a partir daí, ajudar seus familiares, incentivando-os (leia-se: pagando) a estudar, a se aprimorar através de cursos, a ter um plano de saúde etc., a fim de que todos ao seu redor atinjam um patamar de vida melhor. Então porque que a  prosperidade econômica não é às vezes bem vista? Percebemos uma raiva velada contra os ricos, como se fossem vilões. Ora, se eles representam um padrão almejado por todos, então deveriam servir como exemplo de pessoas que venceram, desde que sua riqueza tenha sido honestamente conquistada.

Dentre outros fatores (pra mim o mais grave é a baixa auto estima do brasileiro), acredito que isso se deve um pouco ao fato de que nas bases da nossa sociedade predomina o Cristianismo Católico que, ao contrário do Protestante, tende a rejeitar a prosperidade e a riqueza, associando-as a algo impuro e ao pecado. Passei aproximadamente uns 20 anos frequentando a igreja católica e não me lembro uma vez sequer de ter ouvido um padre estimular seus fiéis dizendo: “meus irmãos, estudemos e trabalhemos arduamente para vencermos a nossa miséria, pobreza e a ignorância! Sejamos ricos espiritualmente e materialmente!” A Igreja indiretamente acaba passando para a grande massa a idéia de que vê santidade na pobreza e virtude na ignorância, contribuindo assim para que muitos de seus fiéis associem miséria a humildade, o que é um erro. São Francisco deve ser visto como um belo exemplo de desprendimento, mas não de culto à pobreza. Lembro que a minha avó costumava dizer que quanto maior for o sofrimento na terra, maior será a recompensa no céu. Essa frase ilustra bem a distorção do pensamento católico. Visto desta forma pelos mais ignorantes, faz com que muitos não façam qualquer esforço para saírem de sua condição ou, pior, até mesmo contribuam para sua própria miséria a fim de se manterem merecedores da piedade divina e levarem o “grande prêmio” no final. Não estou afirmando que isso é pregado nas igrejas, mas indiretamente percebo essa associação do sofrimento com a santidade. Que grande engano que poderia ser corrigido aos domingos! Ser desgraçado, infeliz e miserável não tem nada a ver com ser merecedor do amor de Deus. Quantas vezes vi pobres com o coração duro, orgulhosos, mesquinhos e egoístas. E miséria e desgraça só trazem mais miséria, inveja, sofrimento e desgraça, portanto ninguém deveria pensar que pode haver algum benefício material ou espiritual nisso. E quantos potenciais são desperdiçados por causa da apatia, da falta de coragem de lutar para vencer.

Se bem me lembro ainda das passagens do Evangelho, existe uma parábola em que o Senhor partiu para uma viagem e, ao sair, entregou um talento (moeda da época) a um servo, cinco a outro e dez ao último, dizendo que prestaria contas do dinheiro quando voltasse. Os que receberam mais investiram o dinheiro, mesmo sob o risco de perder, a fim de multiplicar o que o Senhor lhes tinha dado. Quando o patrão voltou da viagem, puniu o servo que recebeu somente um talento por que este, por preguiça ou medo de perder o que lhe havia sido confiado, enterrou seu único talento para devolver ao Senhor na volta. Não é muito difícil então, para um católico que teoricamente deveria usar a Bíblia como guia, inferir da metáfora que recebendo muito ou pouco, Deus espera que façamos o melhor que pudermos com aquilo que nos foi dado e não que simplesmente cruzemos os braços quando achamos que o que temos não é o bastante para conquistar alguma coisa.

Sei que esse assunto merece uma análise muito mais aprofundada, o que não é meu objetivo, pelo menos não aqui no blog. Só gostaria de deixar bem claro que esse post não é contra as religiões, muito menos contra a Igreja Católica. Acredito verdadeiramente que, vividas com o propósito da caridade, do amor e da paz, as religiões podem nos levar a um viver melhor. Só que, ao meu ver, infelizmente as religiões  em regra não parecem cair muito bem nas mentes mais fracas. Esse post é, portanto, um alerta para todos nós vencermos a ignorância e a equivocada interpretação das doutrinas que supostamente deveriam motivar as pessoas ao seu melhor, a vencer o marasmo, a realizarem algo grande, ao invés de simplesmente conformá-las.

Dadas essas colocações, que você tenha um Natal muito feliz e um novo ano verdadeiramente próspero! Beijos e abraços! ;-)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...