quinta-feira, 11 de junho de 2009

Trabalhando conosco do jeito que somos

"We would share and listen and support and welcome, be propelled by passion not invest in outcomes. We would breathe and be charmed and amused by difference, be gentle and make room for every emotion."

Alanis Morissette - Utopia


Caros amigos,

Recebi esse texto de uma amiga que está fazendo especialização numa área "não-comercial" chamada de DEP (Dinâmica Energética do Psiquismo) e me senti mais uma vez tocado, o que me fez querer compartilhá-lo. Acredito que o nosso caminho é construído dessa maneira, todos juntos. Para quem quiser saber mais, o texto é um excerto da página 48 do livro EM BUSCA DE UMA PSICOLOGIA DO DESPERTAR - Budismo, Psicoterapia e O Caminho da Transformação Espiritual Individual. (John Wellwood - Editora Rocco).

Beijos e abraços a todos!

Como converter os medos e as fixações de nossa personalidade em pontos de partida para o caminho do despertar? Antes que mudanças verdadeiras se tornem possíveis, precisamos ver, sentir e entender O QUE REALMENTE EXISTE - em contrapartida à nossa versão habitual da realidade. Isso não é fácil. Ficamos cegos com nossas esperanças e medos, formas antigas de sentimento e percepção, convicções e opiniões favoritas. Por isso, o primeiro passo para transformar a personalidade em caminho é assumir o compromisso de nos vermos como realmente somos, mesmo que detestemos aquilo que descobrimos.

Uma prática que refine a percepção, como a meditação ou o autoquestionamento contemplativo, é sempre útil para desenvolver a capacidade de testemunhar nossos atos sem nos prendermos a julgamentos de bom e mau. Ao nos sentarmos em silêncio em nossa própria companhia, enxergamos as tentativas contínuas de manter a identidade e a forma pela qual nossos pensamentos funcionam como uma espécie de cola, mantendo coesa a estrutura da personalidade. À medida que a estrutura se solta, maiores quantidades de nosso ser, anteriormente cobertas por ela, começam a ser reveladas.

É claro que nem sempre gostamos do que descobrimos. Defrontamo-nos com a dor do nosso carma - o padrão emaranhado de nossas ações e reações, condicionamentos acumulados, hábitos, mecanismos inconscientes e medos. Como disse um buscador espiritual bem-humorado, “autoconhecimento significa más notícias”, pelo menos no início.

Nessa altura, não é suficiente apenas reconhecer aquilo que existe: precisamos também criar um relacionamento mais pleno com o que existe. Isso significa abrir o coração para a nossa situação - senti-la, olhar para ela de frente e deixar que ela nos toque. Não precisamos necessariamente gostar do que vemos. Se detestamos certas partes de nós, também podemos trabalhar cm nosso ódio, considerando-o parte do que existe. Somos capazes de aprender a encarar de frente e investigar profundamente qualquer coisa que apareça.

Focalizar a atenção na dor de nosso aprisionamento a padrões costuma ativar uma tristeza que existe no fundo de nós - que eu chamo de “tristeza purificadora”. Esta é a tristeza da alma. É o reconhecimento direto do preço que pagamos por permanecermos presos a padrões estreitos e por dar as costas à nossa natureza mais ampla. Quando prestamos atenção a esta tristeza, ela revela um profundo anseio por despertar, dizer a verdade, ser verdadeiro e fazer o que for necessário para viver plenamente.


(pág. 51)


...Dentro de cada ferida existe uma benção oculta. Se nos culparmos por nossos padrões de personalidade, não poderemos ter acesso a dádiva que eles trazem e nos empobrecemos mais ainda. Qualquer coisa contra a qual estejamos em luta, por mais neurótica que pareça, pode ser um ponto de partida para um caminho melhor. Qualquer problema, assunto não resolvido ou confusão internos aparentemente impossíveis de solucionar se transformarão em caminho se caminharmos resolutamente em sua direção e nos relacionarmos com ele.

É fácil sentirmo-nos desencorajados pelos obstáculos da vida e perguntar: “Por que é tão difícil a condição humana; por que tenho que passar por tudo isso; por que não tenho mais sabedoria? Em nosso desespero, deixamos de dar valor ao fato de que a evolução humana é um CAMINHO. A iluminação não é uma meta ideal, um estado mental perfeito ou uma dimensão espiritual elevada, mas uma jornada que acontece aqui na Terra. É o processo de despertar para o que somos e nos relacionarmos com isso.

Como começamos nossa vida em um estado completamente vulnerável, precisamos construir uma personalidade para nos proteger. ... Todas as defesas de nossa personalidade são inteiramente compreensíveis e todas tem seu valor e sua inteligência. Além disso, elas nos fornecem um caminho. Ao sentir o peso e as restrições da personalidade condicionada, somos motivados a buscar nossa natureza maior. O problema não é a personalidade, mas nossa recusa em crescer além dela - o que faz de nós um caso de desenvolvimento interrompido.

O budismo tântrico usa a metáfora da cobra se desenrolando no ar para descrever o processo do despertar. Os anéis de nossa neurose contêm dentro deles uma energia selvagem e crua. Para desenrolá-los e nos libertarmos de sua prisão não é necessário matar a cobra, nem sublimar esta energia por meio de formas de comportamento socialmente aceitas. Podemos simplesmente permitir que os anéis façam o que querem fazer naturalmente -se desenrolar- e teremos seu enorme poder e vibração à nossa disposição. O que permite à cobra enrolada da mente se desenrolar é a percepção e a compaixão. A compaixão não tenta suprimir a selvageria da cobra, mas simplesmente usa as energias contidas nas neuroses para nos impelir para frente. E este caminho - a liberação das qualidades de nosso ser, festejando-as e afirmando-as, e usando-as para ajudar a nós mesmos e aos outros - é infindável.

2 comentários:

  1. Lú, adorei o texto: muito direcionado ao que'u estou vivendo, e ao que muitas outras pessoas tb estão passando.
    Obrigada pela dica!
    Bjusss

    ResponderExcluir
  2. Não tenho palavras para comentar... esse texto é maravilhoso.

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...