segunda-feira, 29 de junho de 2009

Parada gay













Imagine que você é um sociólogo estrangeiro totalmente desavisado da cultura de um país e, pretendendo traçar um perfil do comportamento social e sexual do povo, resolve usar como espaço amostral uma festa tipo um baile funk daqueles bem vale-tudo. Mal comparando, esta é a idéia que acredito que muitos héteros façam dos gays ao assistirem a uma parada gay. Hoje foi a daqui de Fortaleza. E infelizmente tenho uma avaliação negativa a fazer. Esse post de hoje não é sobre sexualidade. Na verdade é sobre o faminto que, na ânsia de matar sua fome, quando come se comporta de maneira inapropriada.

Imagino que a idéia inicial das paradas gays era de gerar tolerância, convivência harmônica com a diversidade, mostrar pra sociedade que os gays têm sim direito à sua afetividade e lugar na sociedade sem precisarem viver como os cristãos na época da Roma antiga, nas catacumbas. A questão é: realmente acho que essa boa oportunidade de sair da clandestinidade e de conquistar espaço para a convivência em harmonia vem sendo utilizada justamente como instrumento de reforço dos piores estereótipos que se têm dos homossexuais.

Dado que as necessidades humanas são universais, dessa forma a vida afetiva dos homossexuais não difere dos elementos que compõem as dos héteros, ou seja, amor, ciúme, desejo, sexo, libido, traição, monogamia, promiscuidade, afeto, carência etc. etc. Contudo, a parada só mostra a parte ruim desses aspectos. A manifestação lembra um carnaval/orgia onde os travestis, homens e mulheres desfilam seminus, dançam de maneira apelativa, em cima dos trios os caras não-efeminados agem como garotos de programa e o batalhão de homens extremamente efeminados e de mulheres com atitude irmão-caminhoneiro que acompanha os carros reforça mais ainda a idéia de que ser gay equivale a ser pervertido/promíscuo/amoral/imoral. E isso não é verdade.

Só o que a gente vê por aí são caras héteros saindo na noite, pegando umas meninas e transando sem camisinha e muita gente não vê nada de mal nisso, muito pelo contrário. A cultura do cara casado infiel, pelo menos aqui no Nordeste, é quase normal. Em recente matéria do globo repórter, foi mostrado que é comum pais terem relação com as filhas menores e em alguns casos terem até a cumplicidade da mãe. Todos esses desvios de conduta da moral vigente são equilibrados pelo fato de vermos e/ou conhecermos muitos héteros que, pelo menos aparentemente, vivem uma vida dentro dos padrões social e moralmente desejáveis. Portanto, pro senso comum existem héteros-joio e héteros-trigo e por isso nunca se vai ouvir dizer “o hétero é isso ou aquilo”. Não dá pra classificar o grupo por essa característica e atribuir valores. Com o gay é diferente. São culturalmente obrigados (via de regra) a viverem na clandestinidade, vistos como trangressores e tudo neles é condenado com um rigor que jamais se aplica ao heterossexual. São as atuais Genis, muito bons de apedrejar. E diferentemente dos héteros, quando se fala em gay já se faz uma associação natural a determinadas características estereotipadas e coloca-se todo o grupo dentro de um mesmo padrão. E aí, quando os olhos da sociedade se voltam pro evento que divulga a imagem do gay, na boa oportunidadede se mostrarem diferente praqueles que enxergam sua realidade de maneira distorcida... ooooops! A parada gay! Essa é a imagem que acaba sendo impressa e vendida. E na minha opinião ela infelizmente não está contribuindo positivamente pro seu propósito.

Beijos e abraços a todos!

3 comentários:

  1. Arrasou de novo, Aluízio. Muito bem argumentado, sobretudo o último parágrafo.

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  2. Então, até onde eu sei sobre "Paradas Gays" e o movimento gay em geral o objetivo deles não é apenas "gerar tolerância" mas é chocar, é esfregar na cara da sociedade seus preconceitos e pregar a livre sexualidade, sem o moralismo (principalmente cristão) enraizado no nosso dia a dia... Bem, não sei se isso esclarece alguma coisa, mas que eu saiba eles têm esse objetivo que eu acho muito válido... Alguém que milite na área poderia explicar melhor, eu conheço muitos militantes mas não sou do movimento gay, até por não ser homossexual... Abraços...

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  3. Devo admitir que tenho curiosidade de assistir uma parada gay para ver de perto todos excessos de que todos falam. Pelo que vejo na teve (meus óculos cor-de-rosa), e como Aluízio falou, é um novo carnaval, mais chocante e provocativo. É hora de soltar tudo sem ter medo de ser feliz. Não se essa é a melhor forma de mostrar a essa sociedade preconceituosa que eles não são diferentes de ninguém e nem de outro mundo. Mas está na hora de acabar com essa besteira de não saber aceitar o diferente. Por outro lado, não dá mais para fechar os olhos para as barbaridades que heterossexuais anda fazendo por ai, ainda mais com crianças. Cara, eu sinceramente fico revoltada com essas mães que tem a audácia de ser conivente com uma brutalidade dessas dizendo que o fdp é que coloca comida na mesa. Até pedir no sinal é uma opção a isso. Se fosse eu fugiria de casa, mesmo sem saber para onde ir. Pior ainda, tem gente que não acredita nos filhos... mãe que é mãe sabe quando filho mente... Eu acho que uma monstra dessa deveria ser processada como cúmplice do abuso sexual. Deixa minha OAB chegar que eu vou fazer estrago no meio do mundo.

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