sábado, 19 de setembro de 2009

My sister's keeper

Essa semana assisti Uma prova de amor (My sister’s keeper) e gostei muito. Chorei mais do que minha vergonha me permite e resolvi falar do filme, mas não para classificá-lo como bom ou ruim. Não sou eu e nem ninguém quem define isso. Achar bom ou ruim vai depender unicamente do que você gosta. Só posso dizer que gostei muito. E apesar de mais uma vez a Abigail Breslin dar um show, também não vou analisar a atuação de ninguém porque, definitivamente, não é isso que define o carisma ou sucesso de um filme (basta lembrar do sucesso que fez Dirty Dancing).

O ponto específico do filme que me chamou a atenção e sobre o qual vou falar é o seguinte: Anna (Abigail) desde que nasceu, passou boa parte da vida doando medula, fazendo exames e outras coisas que pudessem auxiliar no tratamento da irmã mais velha, Kate, que desde bem nova foi diagnosticada com leucemia. Aliás, Anna foi concebida (fabricada) com esse propósito: ser uma doadora compatível. Num determinado momento, Anna decide entrar com um processo contra a família para ter o direito de não ser mais a “repositora de peças defeituosas” da irmã. Independente do fato de no final do filme sabermos que ela fez isso a pedido da própria irmã, ao longo do filme se instalou um dilema moral que, para uma sociedade passional e impregnada da moral católica como a brasileira, é difícil de lidar: apesar de Anna amar sua irmã, ela se posiciona pelo direito de dispor do seu corpo como quiser e, consequentemente, a partir daí não ter que ser obrigada a doar órgãos, líquidos ou tecidos para a irmã. Argumenta de forma que faria inveja a muito advogado que os procedimentos (incluindo a doação do rim) que podem vir ou não a salvar sua irmã, poderão, também, comprometer seu futuro e bem-estar. Num determinado momento diz: “não poderei praticar esportes, ser líder de torcida e várias coisas da minha vida estarão comprometidas”. Para que a irmã pudesse viver, ela teria que perder e só Anna sabia a importância que tinha para si mesma (subjetiva) daquilo que iria abrir mão.

Naquela hora fiquei pensando, ao mesmo tempo que fascinado pela articulação e pelos argumentos da garota, que realmente não é justo que, por coação moral ou emocional, se peça algo que alguém voluntariamente não quer fazer e que ela tinha, sim, o direito de querer ou não ajudar a irmã sem ser julgada como ruim. E que fique claro que quando me refiro a ter o direito, não estou falando em agir amparada pela lei. Refiro-me a agir sem ser moralmente julgada. Fiquei pensando que se fosse uma situação real e se passasse na sociedade brasileira, num universo de 100 pessoas, 99 a rotulariam como má ou egoísta e provavelmente, sem respeitar sua escolha, tentariam deixá-la mal com sua decisão, dizendo para ela que iria se arrepender quando crescesse por não ter querido ajudar a irmã, fazendo-a, inclusive, se sentir culpada caso sua irmã morresse. Mas eu pergunto: é tão condenável assim querer ser boa consigo mesma? Ser bom é ser sempre legal e dizer sim para os outros? E quanto à felicidade dela, quem seria responsável por isso? Objetivamente falando, a vida e felicidade de uma pessoa são tão valiosas quanto as de outra e não é pelo fato de uma estar no centro de um drama comovente que retira da outra o direito de ter suas próprias escolhas. Não, não. Kate nasceu com leucemia e isso não é culpa de ninguém. Anna nasceu saudável e isso não foi escolha de ninguém, portanto, ela não TEM que abrir mão de si mesma a fim de que outra pessoa fique bem. Defendo que ela tem o direito de dizer sim ou não e que, desde que isso parta de uma escolha consciente, seja verdadeiramente respeitada. Difícil aceitar isso sem taxar como egoísmo, não é? Eu sei, também fui impregnado por essa mentalidade a vida inteira. Só sei que fiquei realmente apaixonado pela nova visão que Anna me deu de que escolher a si mesmo não significa sempre ser egoísta. O próprio fato de o papel ter sido interpretado por uma atriz que transmite tanta pureza, honestidade e doçura serviu para reforçar essa idéia.

Sem nenhuma apologia à sociedade americana, mas acho que, de uma maneira geral, eles contribuem para que nela o indivíduo se sinta responsável pelos seus atos e pela vida que leva. Em Cascavel morava um casal de missionários americanos e me lembro que uma vez eles comentaram que o normal lá nos EUA era que os filhos, tão logo atingissem a maioridade, já começassem a buscar sua independência, irem morar só, trabalhar etc. Acredito que, feito de uma maneira positiva, isso contribui para o amadurecimento e para que cada um se sinta responsável por si. Lógico que isso levado a outro extremo pode levar ao individualismo exacerbado (muito forte na cultura americana), mas se pensássemos pelo menos um pouco mais dessa forma, não acharíamos que nossos governos têm a obrigação de serem assistencialistas, que prover tudo e que o país só está ruim por causa dos políticos. E quem elege os políticos? E quem suja as ruas? Bom, isso é tema para outro post.

Só acho, assim como Anna, que as escolhas são nossas e, a partir do momento que você, reconhecendo sua limitação humana, percebe que não vai ser capaz de fazer algo sem depois se arrepender, ressentir ou apresentar a conta, deve então decidir não fazer.

Beijos e abraços!

2 comentários:

  1. Correspondente Anônimo20 de setembro de 2009 às 09:24

    Fugindo do assunto do topico, vou falar da sociedade americana, q vc citou. vc disse:

    "os filhos, tão logo atingissem a maioridade, já começassem a buscar sua independência, irem morar só, trabalhar etc".

    O problema com os estados unidos eh q nao sao os filhos q, qd atingem a maioridade, saem de casa. Sao os pais q, qd os filhos atingem a maioridade, expulsam-nos de casa. E eh isso q leva ao individualismo, pq uma pessoa normal se sente rejeitada pela propria familia.

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  2. Fiz um comentário gigante muito filosófico e refletido e perdi tudo, maldito google. Resumindo: deve ser um saco nascer e viver em função de outro e ninguém tem nada que ficar apontando o dedo dizendo que a pessoa é um monstro por querer simplesmente viver sua vida plenamente sem ser um repositório de partes de outrem. É preciso cuidar de si para cuidar do outro.

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