sábado, 1 de dezembro de 2012

Eu li: Laranja Mecânica



Dados do livro
Autor: Anthony Burgess
Tradução:  Fábio Fernandes
Editora: Aleph
10ª reimpressão


Caro drugui, convido-o a ler este livro mui horrorshow e se surpreender e se chocar com nosso malenk Alex e sua ultraviolência. Alex é um maltichik delinqüente e junto com seus druguis Pete, Georgie e Tosko praticam todo tipo de veshkas terríveis. Uma vez pego pelos miliquinhas e preso, foi submetido ao Método Ludovico para ser curado de sua ultraviolência. Falando assim skorre, deu para kopatar, caro drugui, do que se trata essa história?
 
Ãh? O que? Oi?
 
Exatamente. Quando se começa a ler a história de Alex,  fica-se um pouco atônito com a gíria do rapaz. Essa linguagem, conhecida como “nadsat”, que foi especialmente criada pelo autor para criar uma sensação de estranhamento do leitor. Nessa edição brasileira, o glossário da primeira edição americana de 1963 (não existente na original britânica) foi preservado e traduzido com muito bom gosto e fidelidade para o português.
 
Tentei ler sem recorrer a ele, mas houve certos momentos em que não compreendia parágrafo inteiro e então comecei a espiar. No decorrer do livro você vai se acostumando a jeito muito peculiar de falar de seu “humilde narrador”.
 
Começamos com uma visita ao Lactobar Korova onde nosso personagem principal vai tomar moloko (ou leite) com uma variedade de drogas alucinógenas, antes de começar suas arruaças por ai.
 
As cenas de violências são cruas e chocantes e revoltantes, e totalmente gratuitas e desmotivadas. Após um dia cansativo de “ultraviolência”, Alex vai dormir se deleitando com grandes nomes da música clássica, em especial, Beethoven.
 
Em uma tentativa malsucedida de assalto, Alex acaba preso. Nos corredores da prisão chega aos seus ouvidos a possibilidade de converter sua pena e sair brevemente se concordasse em participar de um experimento científico.
 
A partir de agora há spoilers do livro, leia por sua conta e risco.
 
A técnica chamada Método Ludovico consistem em associar atos e o desejo de causar violência com dor e mal-estar. Durante 15 longos dias, Alex é drogado, amarrado em uma cadeira, de modo que seus olhos permaneçam sempre abertos para assistir todo tipo de atrocidade. Durante as sessões sente muitas dores e ânsia de vômito. Ao fim do tratamento, o simples pensamento de praticar qualquer ato de violência o deixa fraco e doente.
 
Uma questão levantada pelo capelão da prisão é o aspecto ético do tratamento. Alex tornou-se “bom” de forma forçada, sendo-lhe tirada qualquer possibilidade de escolher fazer o “bem”.
 
“Devo confessar que compartilho dessas dúvidas [sobre a aplicação do método em questão]. A questão é se uma técnica dessas pode realmente tornar um homem bom. A bondade vem de dentro, 6655321 [Número que Alex recebe na prisão]. Bondade é algo que se escolhe. Quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser um homem.”
(...)
Mais a frente, em outro diálogo com o capelão, antes de iniciar o “tratamento”:
Alex: “_Ah, será bom ser bom, senhor. – Mas por dentro eu estava smekando (rindo) muito horrowshow, irmãos. Ele disse (o capelão):
_Pode não ser bom ser bom, pequeno 6655321. Ser bom pode ser horrível. E quando digo isso a você, percebo o quão autocontraditório isso soa. (...) Será que Deus quer insensibilidade ou a escolha da bondade? Será que o homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si? Questões difíceis e profundas.”
Essa pergunta é o cerne do livro. O tratamento a que é submetido não suprime totalmente, o desejo de Alex de cometer atos violentos, mas cada vez que tenta ou pensa, se sente mal.
 
Jogado num mundo ultraviolento, agora, totalmente indefeso, Alex descobre que seus pais alugaram seu quarto e que todas as suas coisas, inclusive seu precioso estéreo e seus discos de vinil foram vendidos para saldar as despesas de suas vítimas.
 
Ameaçado por um antigo inimigo e um antigo amigo, que haviam se tornado policiais, é acolhido na casa de um escritor, que havia sido sua vítima. Lugar em que encontra um rascunho de livro intitulado “Laranja Mecânica.”
 
Tentam utilizá-lo como arma política contra o governo. Alex se joga de um prédio, mas não morre, na verdade, sofre um “reboot” (reinicialização) e voltar a ser o mal e velho Alex de sempre.
 
Arruma outros druguis para continuar suas visitas ao Lactobar Korova e suas arruaças por ai. Certa feita, encontra Pete, um de seus velhos capangas, e descobre que ele está casado e aquilo o leva a refletir o quão velho está nos seus 18 anos e que talvez a ultraviolência não faça mais tanto sentido.
 
Devo confessar que não gostei nada desse final. Das duas, uma, ou ele fica “bom” e ia sofrer as conseqüências disso ou ele teria de tentar se “recuperar” por seus próprios meios até voltar ao “normal”.
 
Deixar a violência para trás como uma fase da juventude também não é lá um bom desfecho.
 
Vou dar um desconto porque o livro foi escrito em três semanas e é muito bom a maior parte do tempo.
 
Resumo da ópera, é um livro chocante, marcante e inesquecível. Apesar de ser uma criaturinha diabólica, o personagem Alex é carismático, engraçado, sarcástico e em nenhum momento tentar se justificar ou parecer (para o leitor) outra coisa além do que realmente é.
 
No momento do tratamento, diante de seu sofrimento, experimentei emoções um pouco contraditórias. Ao mesmo tempo em que me senti vingada por toda violência gratuita praticada pelo protagonista, no fundo fica aquele mal estar de ver uma pessoa sendo torturada institucionalmente.
 
O que assusta mais nessa história, que faz parte da trindade distópica juntamente com 1984 (George Orwell) e Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), é a proximidade cada vez mais preocupante desse 
futuro agora não tão distante.  
 
Um livro que não pode faltar na sua estante!
 
“E então, o que vai ser hein?”
 
O livro gerou filme homônimo dirigido por Stanley Kubrick em 1971, mas isso já história para outro post. =D
 
Palavra do dia!
Distopia – utopia às avessas.  As distopias são geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo, por opressivo controle da sociedade. Nelas, caem as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. A tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, seja de instituições ou mesmo de corporações.
Distopias são frequentemente criadas como avisos ou como sátiras, mostrando as atuais convenções sociais e limites extrapolados ao máximo. Nesse aspecto, diferem fundamentalmente do conceito de utopia, pois as utopias são sistemas sociais idealizados e não têm raízes na nossa sociedade atual, figurando em outra época ou tempo ou após uma grande descontinuidade histórica.

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