segunda-feira, 14 de março de 2011

Como se tornar primeiro mundo em poucos passos fáceis

Eu estava no hotel, no feriado do carnaval, me arrumando pra sair com a TV ligada quando ouvi sem querer um pedaço de uma notícia que estava passando no Jornal Nacional e que dizia “...com isso o Brasil se aproximará de índices parecidos com os do primeiro mundo...”. A notícia continuou e eu nem prestei mais atenção no resto. Minha mente viajante parou de prestar atenção no que acontecia naquele momento e já estava conectando aquela frase a um fato do passado.

Acho que foi no governo Tasso Jereissati lá pelo começo ou meio da década de 90, eu ainda estudava engenharia civil e me sentia todo orgulhoso de ser um pobre que conseguiu ser aprovado, apesar das dificuldades, numa faculdade pública. E nas minhas idas a Cascavel (cidade do interior do Ceará onde tenho familiares) uma vez, conversando com uma amiga minha que era professora lá, ela me contou que o governo do estado resolveu “qualificar” todos os professores da rede pública (a maioria deles nas cidades do interior não tinha nível superior), levando cursos de pedagogia da UVA (Universidade do Vale do Acaraú) a essas cidades a fim de que os professores pudessem ter um nível superior. Assim foi feito e me lembro que em campanhas na TV algum tempo depois apareciam aquelas imagens de crianças sorridentes na sala de aula, que de alguma maneira nos remetem à idéia de melhoria e de prosperidade, acompanhadas do índice: “No Ceará 100% dos professores da rede pública possuem nível superior” ou algo parecido.

Rsrs! Nem dá vontade de continuar esse post de tão óbvia (e única) a conclusão que pode ser tirada de como são obtidos a maioria dos índices positivos brasileiros, ou melhor, aqueles que são pra inglês ver.

Mas prossigamos. Ou eu sou um cara que implica com as coisas do Brasil de graça ou então esse não seria exatamente o caminho certo para se obter um ensino público qualificado. O que se fez foi uma maquiagem e que, diga-se de passagem, funciona até hoje! Ao invés de o governo determinar que a partir daquele momento só contrataria professores com nível superior em pedagogia para num momento futuro se atingir um índice maior (e real) de professores qualificados, ele resolveu simplesmente diplomá-los. Simples assim. Os cursos eram itinerantes, indo ao interior tipo de 15 em 15 dias para dar alguma aula boba, passar um trabalho para poder atribuir uma nota ao professor-aluno e, com isso, aprová-lo e diplomá-lo. Nada (ou quase nada) na qualidade do ensino ministrado por aquele professor mudaria após a graduação, exceto pelo diploma relâmpago que ele ganhou. Era o mesmo professor com a mesma (des)qualificação, falando errado, ensinando qualquer matéria que a escola pedisse, simplesmente copiando a matéria na lousa. Sim, ensinar no interior é copiar a matéria na lousa.

Ora, mas porque dar-se ao trabalho de realmente abrir concursos para professores qualificados, tendo que oferecer salários mais atrativos, se é muito mais fácil fabricar um índice com uma manobra que obteria resultados ainda na gestão daquele governante? No way! Isso é coisa de asiático que tem paciência pra decidir transformar uma sociedade em 20 anos. Otários! Nós temos a fórmula perfeita. Lá nos índices da ONU, da UNESCO, na apresentação do Criança Esperança ou em qualquer lugar num papel ou numa notícia, o Ceará apareceria (como de fato apareceu) como um estado que superou a deficiência na rede pública oferecendo professores com nível superior.

Precisamos ensinar ao primeiro mundo essa técnica esperta, bem brasileira, de aparecer bem na fita sem fazer muito esforço, afinal, fazer muito esforço pra conseguir o que se quer é coisa de mané, certo? Gente esperta consegue as coisas facilmente!

Beijos e abraços!

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