domingo, 2 de agosto de 2009

Let’s talk about... português???

No meu tempo de ensino médio (que era chamado 2º grau) eu detestava inglês. Eu fui um adolescente meio rebelde, igual a muitos outros, que achava que era diferente e que as idéias iriam mudar o mundo meu ao redor. Pois bem, uma das minhas rebeldias era me recusar a estudar inglês por ser matéria obrigatória no colégio. Na época eu questionava irritado: “porque que se eu souber muito bem português, história, ciências etc e não souber o idioma de outro país serei reprovado e obrigado a repetir de ano?” Isso me deixava puto e eu de teimoso não estudava. A solução pra passar de ano era na hora da prova copiar tudo na carteira, num papel, olhava a prova do cara ao lado, mas não estudava. Pro vestibular, optei por espanhol por ser “parecido com português”. Deu certo, passei.

Some years later... meus 18, 19, 20 e poucos anos, auge do pop rock estilo anos 80/90 que virou a trilha sonora da minha vida. Pet shop boys, erasure, new order, queen, madonna, michael jackson… cada música era tema de uma festa, férias ou saída que depois virava um registro musical da minha história: era ouvir e praticamente poder reviver tudo de novo. Os videoclipes, por sua vez, ditavam como deveríamos nos vestir, mascar o chiclete de boca aberta, andar, dançar, enfim, eram manuais de comportamento de aproximadamente 4 minutos de duração. Influenciado por essa onda, não tive como fugir, me apaixonei pela música e me rendi ao idioma. Rebeldias e infantilidades superadas, hoje adoro estudar as sutilezas e me aprofundar ao máximo na língua que o mundo fala no comércio, na música e na imprensa internacionais. Na realidade ele é a única coisa que estudo voluntariamente, de tempos em tempos, sem nenhum outro objetivo que não seja meu aprimoramento.

Só que tem uma coisinha que ainda me incomoda... a presença exagerada, quando não desnecessária, do inglês no nosso país. Veja bem, gosto do idioma inglês, mas não gosto de ver o brasileiro incorporando palavras de outro idioma quando temos um equivalente perfeito na nossa própria língua, parece coisa de pobre, não no sentido financeiro da palavra, mas no cultural. Se vamos ao “shopping center", as lojas nunca estão em promoção ou liquidação, elas estão em SALES ou OFF! Acho que isso pode ser devido ao fato de que a classe alta, freqüentadora dos centros de compras, se sentiria muito jeca se dissesse que comprou roupas numa liquidação ou promoção. Chique é SALES ou 50% OFF! Qualquer ramo de alimentos que faça entregas, não tem o nome ENTREGA: chique é dizer que tem DELIVERY. Entendem onde quero chegar? Isso é absurdamente desnecessário e na minha opinião demonstra uma subserviência cultural. Declaramos expressamente que dizer em inglês é mais elegante do que em português. Eu até concordo que vez ou outra importemos algumas palavras que, sozinhas, encerram uma idéia abrangente e que no nosso idioma talvez tivesse que ser explicada com mais palavras ou não teriam um equivalente tão apropriado, como é o exemplo da palavra layout, mas esse uso absurdo do idioma estrangeiro aqui é muita pobreza de espírito e falta de auto-estima.

Essa influência do inglês vem causando, inclusive, transformações na estrutura do idioma no sentido de assemelhá-lo ao inglês. Até onde eu sei, no português o verbo chamar difere da forma pronominal chamar-se. Mas aí vem a Ana Maria Braga ajudando as pessoas a falarem mais corretamente e pergunta: “como você chama?” e depois diz sorrindo “quando você quiser vim aqui no programa de novo é só avisar”. A conjugação das formas no futuro está totalmente em desuso. Ninguém diz mais “ano que vem viajarei”, mas sim “ano que vem vou viajar”, e acredito que isso se derive da estrutura do futuro no inglês Will + Infinitivo do verbo.

Outra prova de que a “superioridade” do inglês é uma idéia culturalmente enraizada no brasileiro é o exemplo de que pobre que se preze tem que colocar no filho(a) um nome “sofisticado”: Washington, Wellington, Stephany, Kennedy etc. Quanto mais ípsilons, dáblios, cás e consoantes duplicadas, mais destaque pro nome. Francisco? Joaquim? Antônio? Só se for em nome de filho de artista da Globo.

Depois dizem que brasileiro é patriota. Tá bom, só se for na época da copa do mundo.

Best wishes! ;-)

2 comentários:

  1. Você tem toda razão quando vincula essa preferência pelo inglês à motivação social de ter status. Particularmente no que se refere aos nomes estrangeirizados, eles são mesmo uma tentativa de "ascensão social". Mecanismo semelhante ocorre quando nordestino passa uma semana no sudeste e volta falando chiado (se tiver ido pro Rio) ou cheio de ss (São Paulo), ao passo que o contrário NUNCA ocorre (paulista falar que nem cearense quando chega aqui? Em que realidade alternativa?). É tudo uma questão de obter/mostrar/manter status.

    ResponderExcluir
  2. Que bom ter você de volta, ao melhor estilo: garoto questionador!!
    Bjos, te adoro!

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...