domingo, 26 de julho de 2009

Querer mudar

I wanna be weightless flying through the air
I wanna drop all my limitations
And return to what I was born to be
Alanis Morissette

Galera, ontem assisti à comédia romântica A Proposta. Calma! Vou explicar como aconteceu: saí com a intenção de assistir Inimigos Públicos. Só que a sessão começava às 23:00 e, como o shopping fecha às 22:00, eu teria que ficar lá na área do cinema uma hora esperando. Como eu já tinha visto alguns dos que estavam em cartaz nos horários mais cedo, só me sobrou a sessão das 21:00 que era qual? A Proposta! Entrei conformado no cinema. Filme com a Sandra Bullock, já imaginei todos os elementos-clichê indicados no livro “Como fazer uma comédia romântica”: casal bonito, momento comédia, momento crie-uma-cena-inédita nem que seja totalmente nonsense só pra diferenciar o filme, momento trilha sonora, momento sexy, momento família, momento drama pessoal pra gerar empatia e, le grand finale, os bonitos ficam juntos e se beijam num momento Kodak onde o mundo pára de girar pra assistir. Tá lá no livro, eu não tô inventando nada. Agora a surpresa: eu gostei do filme. Nada como a baixa expectativa pra fazer as coisas parecerem melhores do que o que são. E justiça seja feita: a Sandra Bullock tá cada vez mais linda!!!

Só que eu não liguei meu computador pra comentar esse filme, ele é só um gatilho. Hoje, lendo o blog da Raquel, li mais uma vez um ótimo post, o Querer quebrar e imediatamente me conectei com uma cena do filme que tinha a ver com o texto da Raquel. A personagem da Sandra Bullock se virou pro Ryan Reinolds, dizendo algo tipo: “Fulano, há uma razão pra eu ser assim (o assim era: linda e bem-sucedida, porém detestada por todos e, portanto, sem amigos, sem amor, sem namorado): eu escolhi ser assim. Essa vida me satisfaz, eu me acostumei e gosto de ser assim.” Parece a música Gabriela da Gal Costa, né? Eu nasci assim, eu cresci assim, hoje eu sou assim, vou ser sempre assim...

Quando eu comecei a fazer terapia, tinha a ilusão de que a partir do momento que eu soubesse o que causava um padrão de comportamento, eu estaria apto a desmontá-lo facilmente só pelo fato de conhecê-lo. Falso! Atualmente comparo cada padrão meu a uma cebola que a partir do momento que encontro, vou ter que descascar camada por camada até chegar no núcleo. Lá, sim, estão algumas respostas. Portanto, encontrar a cebola é só o primeiro passo.

Meu terapeuta na última sessão fez uma metáfora acerca do seu papel com o paciente. Imagine-se andando num caminho totalmente escuro, você com sua lanterna e o terapeuta com a dele. A função dele é, andando junto com você, ajudá-lo a tentar descobrir um caminho que você deseje seguir. Veja bem, o desejo e a decisão são seus e ele tem que respeitar. Conhecendo-lhe bem, e partindo do princípio que a função dele é tentar ajudá-lo a livrar-se do que lhe incomoda, o terapeuta irá apontar um caminho com sua lanterna dizendo “que tal irmos por aqui? olhe pra esse caminho...”. E nessa hora geralmente respondemos “Não, vamos por aqui!”... A questão é que nós (aqui, paro de falar no impessoal e me incluo), na maioria das vezes, apontamos nossa lanterna pro mesmo caminho de sempre, queremos continuar no mesmo caminho. É nossa escolha. E é assim que tem que ser, pois o terapeuta não é dono da verdade, embora esteja ali porque precisamos de ajuda já que não percebemos certas contradições no nosso comportamento.

O cerne da questão é: só se ajuda a quem quer se ajudar. Palavras de sabedoria da minha madrinha: tentar com quem não quer (pronunciado qué) é remar contra a maré!, dizia ela. Você vai pra onde quiser, não se iluda. Às vezes a gente pensa que não quer, mas quer sim! E aí a gente se reveste das inúmeras desculpas que vêm lá do núcleo emocional não-trabalhado. “O que é que vão pensar de mim se eu...?”, “ninguém me entende”, “o mundo é cruel”, “ninguém me ajuda”, “é culpa do fulano se eu sou/estou assim”, “não vão mais gostar de mim se eu passar a...” são só algumas que me vieram à cabeça agora.

Hoje, acredito que estamos exatamente no lugar em que nos colocamos e isso vale pra todos os âmbitos: emocional, afetivo, profissional, familiar etc. Se está ruim ou bom, foram nossas escolhas que nos trouxeram até aqui, não é culpa e nem mérito de ninguém. E o fato de eu reconhecer isso não quer dizer que seja fácil. Às vezes, pra eu admitir um pequeno defeito meu, dói como se estivessem me arrancando um braço sem anestesia. Acredito também que o centro de onde irradiam algumas de nossas emoções já não tem mais muito a ver com o presente, com o que está ao nosso redor. Elas foram construídas na infância e estão lá, ecoando coisas que hoje simplesmente nem mais existem: necessidade de proteção, medos, carência de amor de mãe, de pai e por aí vai, e o que geralmente fazemos é simplesmente irmos superpondo valores da fase adulta em cima dessas premissas que não têm mais nenhuma validade. Desconstruir isso equivale a desconstruir uma personalidade que ao nosso ver já está formada e enraizada e invalidar certas características tão conhecidas e tentar começar a construir do zero, como adulto, o que "normalmente" se constrói num processo natural na infância e na adolescência. Fica bem mais difícil. Eis o porquê de termos tanta resistência em mudar. Mudar significara não se reconhecer mais. Perder a identidade. Chega uma fase em que você duvida de tudo em você. Mas esse é o começo, acredito, que levará à verdade.

Como disse um amigo meu ao conversarmos sobre isso, nessa hora torna-se necessário um trabalho no nível do inconsciente, porque só admitir racionalmente não altera o que está lá no fundo. Mas falar sobre esses trabalhos vai ficar pra outro post. Analisar os labirintos das emoções cansa e às vezes é bem melhor esquecer tudo e se divertir com um filme da Sandra Bullock. ;-)

Beijos e abraços!

4 comentários:

  1. Começo dizendo que me rendi à comédia romântica: A proposta por causa dos atores maravilhosos e lindos! Clichê total, dentro da receitinha como Aluízio falou. Recomendo. Passando à reflexão que esse post traz, hoje viu uma frase muito pertinente: "Quer você acredite que consiga fazer uma coisa ou não, você está certo". Da mesma forma que nós escolhemos o caminho, somos os responsáveis pelo local onde estamos hoje, também temos a chave para passar para outro nível, seja inferior ou superior. Claro que é mais fácil transferir um pouco (ou toda essa responsabilidade) para qualquer outra coisa ou pessoa que não a gente. Mas chega aquele momento de ruptura em que você para e pensa: É, no final das contas, eu estou aqui porque eu quero está. Eu quero dar o próximo passo? O que me amedronta é justamente saber que passo é esse. No meu caso específico, se imagine comigo parado no canto de parede e a sua frente milhares de caminhos, entrelaçados, bem emaranhados, de forma que você não consegue ver se eles se cruzam, se eles te levam ao ponto de partida ou mesmo se eles levam a algum lugar. O que eu e você sabemos é que não dá para voltar atrás, só podemos ir para frente. O que escolher qual caminho seguir? Os meus terapeutas são meus amigos que me emprestam os ouvidos para eu discutir fora de mim as ideias que andavam me atormentando. Aproveito para agradecê-los e dizer que espero que saibam o quanto o apoio de vocês é importante e que meu sucesso é de vocês também (o fracasso é só meu...)Enfim, eu já estou batendo a cabeça no teclado de sono, as ideias já estão meio trocadas. Resumindo: Nós temos que ser responsáveis pela nossa vida. Quando temos essa noção, sabemos que podemos mudar e ser qualquer coisa que quisermos. Lembra da música da Xuxa (ai, isso foi golpe baixo, culpo o sono...):

    Lua de Cristal

    Tudo pode ser, se quiser será
    O sonho sempre vem pra quem sonhar
    Tudo pode ser, só basta acreditar
    Tudo que tiver que ser, será

    Tudo que eu fizer
    Eu vou tentar melhor do que já fiz
    Esteja o meu destino onde estiver
    Eu vou buscar a sorte e ser feliz
    Tudo que eu quiser
    O cara lá de cima vai me dar (não sei se o cara aqui mencionado é Deus ou o moradorar do apartamento de cima...-ai, totalmente desnecessário esse comentário... Sono Maldito!)
    Me dar toda coragem que puder
    Que não me falte forças pra lutar

    Lua de cristal
    Que me faz sonhar
    Faz de mim estrela
    Que eu já sei brilhar
    Lua de cristal
    Nova de paixão
    Faz da minha vida
    Cheia de emoção

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  2. Esse foi o comentário mais bizarro ever em toda minha vida. Nunca pensei que iria tirar alguma lição de vida de uma música da Xuxa. Medo.
    Nota: Onde está escrito 'moradorar' leia-se morador.

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  3. Ok. Tenho certeza de que havia feito um comentário para esse post. Um não, dois, porque o primeiro não tinha dado certo. Agora vejo que nem o segundo.

    De tudo o que tinha escrito, lembro de ter dito que esse foi teu melhor post, e que isso quer dizer muito, pois todos os seus posts são bons.

    O resto? Alguns pensamentos que ficam pra depois.

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  4. K, achei o comentário inteiramente pertinente e a música da Xuxa se encaixa bem na idéia central do meu texto, sim. Apesar de isso não fazer dela (na minha opinião) alguém digno de ser admirado no quesito espiritualidade, mas a música tem tudo a ver com o post. ;-)
    Beijão!

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