sexta-feira, 10 de maio de 2013

Eu li: O escafandro e a borboleta






Livro: O escafandro e a borboleta (Le scaphandre et le papillon )
Autor: Jean-Dominique Bauby
1ª edição - 1997, 3ª tiragem - 2008
Editora: Martins Fontes


 Depois de milênios sem escrever, eis me aqui de volta. Não se engane pensando que passei esse tempo todo sem ler, pelo contrário, ultimamente tenho lido bastante, cumprindo uma meta rigorosa de 12 livros para esse ano, com mais alguns por fora, e é justamente o caso deste aqui.

Uma grata surpresa. Tão bom que me deu vontade de escrever sobre ele.

O título, em si, é inesperado, apesar de adequado, e já explicarei o porquê. O enredo é este: um jornalista, após um acidente vascular cerebral, desenvolve (ou contrai, ou adquire) a chamada L.I.S, locked-in syndrome, em português, Sindrome do encarceramento, em que o paciente fica "preso" no próprio corpo, do qual não possui praticamente nenhum controle. No caso de nosso personagem, seu contato com o mundo se dá pelo único olho esquerdo.

Assim, seu corpo inerte é sua prisão, seu escafandro. Triste, né? Ficar prostrado numa cama, quase isolado do mundo, sem poder fazer nada, sofrendo dores e desconforto, sem poder mover muito mais do que um olho...

E ai que entra a borboleta.

"O escafandro já não oprime tanto, e o espírito pode vaguear como borboleta. Há tanta coisa para fazer. Pode-se voar pelo espaço ou pelo tempo, partir para a Terra do Fogo ou a corte do Rei Midas."

Não vou dizer que nosso personagem, Jean-Dominique Bauby, Jean-Do para os íntimos, era uma pessoa alegre e serelepe, mas sua vontade de viver, apesar de tudo, é inspiradora. Sua mente o transportava além dos limites do corpo. Aproveitar a companhia da família e os amigos, os pequenos passeios no hospital, revisitar lugares e sabores na memória e o mais impressionante: escrever este livro.

Mas como?

"Preciso compor o início destes cadernos de viagem imóvel e estar pronto para quando o enviado do meu editor vier tomar o ditado, letra por letra. Na minha mente, remôo dez vezes cada frase, elimino uma palavra, junto um adjetivo e decoro meu texto, parágrafo após parágrafo. "

Com o auxílio de uma sequência alfabética diferenciada, organizada de acordo com a frequências do uso das letras em francês, ele ditou letra por letra, palavra por palavra e assim por diante, até termos este volume que, a despeito da tragédia de que surgiu, é leve e revigorante. Ao ler, me emocionei com a sensibilidade de suas palavras, com a simplicidade de alguns "causos" e de ver que, costumeiramente, nós gostamos de nos vitimizar e reclamar da vida, das nossas dificuldades.

Ao terminar de ler, senti que estava perdendo tempo reclamando, enquanto eu podia e posso viver plenamente e realizar um mundo de coisas, entre elas escrever com facilidade e contar para vocês o que descobri.

Se a preguiça for grande, ainda tem o filme, que não conheço, mas que se for fiel a história, vai fazer o mesmo efeito, mas indico fortemente a leitura. Permita-se colocar-se no lugar do nosso personagem, e sentir o sabor da vida como você nunca sentiu antes.

Trecho mais marcante:

"Tanto quanto de respirar, sinto necessidade de emocionar-me, amar e admirar. A carta de um amigo, um quadro de Balthus num cartão postal, uma página de Saint-Simon dão sentido às horas que passam. Mas, para continuar vigilante e não afundar na resignação indiferente, conservo uma certa dose de furor, de detestação, nem de mais nem de menos, assim como a panela de pressão tem sua válvula de segurança para não explodir."


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